domingo, 9 de junho de 2013

Coração de Leão - Ja nuns hons pris (música medieval)

Edson Oliveira


Ricardo Coração de Leão
Não havia mais uma cruz em suas vestes, nem mesmo a razão da batalha era religiosa. Retornando da Terra Santa, o monarca necessitava acabar com as revoltas nos domínios ingleses na França. Corajoso e destemido, o rei da Inglaterra bem mereceu o título que o imortalizou: Ricardo, Coração de Leão.


Sitiando o castelo de Chaluz, preferiu não usar armadura na disputa militar contra o visconde Ademar. A audácia custou desta vez sua vida. No alto das muralhas, um arqueiro pronto para disparar observa com muita atenção todos os movimentos de Ricardo. Quando este desceu de seu cavalo para analisar melhor a situação, pode ainda contemplar o rápido movimento da flecha que vinha ao seu encontro.



O tiro fora certeiro. Atingido no abdômen, o rei cruzado cai por terra e é levado para sua tenda. Seus olhos fecham, mas, ainda consciente, relembra o instante em que, marchando à frente de suas tropas no deserto, pode avistar pela primeira vez as muralhas de Jerusalém.



O rei que não conseguiu abrir as portas da cidade santa para seus irmãos de Fé, espera que a Rainha do Céu lhe guie até a Jerusalém celeste. Pensando no alerta de Nosso Senhor de que será julgado com a mesma medida que julgardes, Ricardo perdoou o arqueiro que o alvejara.



No passado, o Leão inglês ficara por dois invernos prisioneiro do Imperador da Áustria, esperando seu resgate. Mas, neste momento, o coração de Ricardo só busca a libertação desta terra de exílio, deste vale de lágrimas. O guerreiro agora agoniza sob os cuidados de um padre que lhe ministra os últimos sacramentos.



O sacerdote sai da tenda real e anuncia: - Monseigneur est mort!


***


Foi durante o cativeiro na Áustria que Ricardo, Coração de Leão, escreveu a música Ja nuns hons pris. Segue abaixo a tradução das duas primeiras estrofes e o vídeo com a música para apreciação dos leitores.




Ja nus hons pris ne dira sa raison

Adroitement, se dolantement non

Mes par confort puet il fere chançon
Moult ai amis, mes povre sont li don
HonteIen avront, se por ma reançon
Sui ces deus yvers pris



Nenhum prisioneiro pode contar sua história

Corretamente, a menos que seja tristemente

Mas com esforço ele pode fazer uma canção
Eu tenho muitos amigos, mas pobres são seus dons
Eles serão expostos à vergonha, se para resgate
Eu for mantido aqui durante dois invernos



Ce sevent bien mi honme et mi baron

Englois, Normant, Poitevin et Gascon

Que je n’avoie si povre conpaignon
Cui je laissasse por avoir en prixon
Je nel di pas por nule retraçon
Mes encor sui ge pris



Sabem bem, meus homens e barões

Da Inglaterra, Normandia, Poitou e Gasconha

Que se eu tivesse um amigo, mesmo humilde
Eu não o deixaria na prisão
Eu não diria que isso é uma repreensão
Mas eu ainda sou prisioneiro

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