sábado, 30 de novembro de 2013

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas! — 28 de Novembro: Como evitar o purgatório? (Parte XXIX)



Nota do blogue:  Acompanhe esse Especial AQUI.

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão

Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre







28 de Novembro

COMO EVITAR O PURGATÓRIO?


Pode-se evitar o purgatório?


Há em geral entre muitos a idéia de que é im­possível entrar no céu logo depois da morte, princi­palmente quando se pensa na Justiça de Deus, na San­tidade Divina e a miséria humana. O purgatório não é sempre inevitável. Pode-se evitar o purgatório e é vontade de Deus que façamos tudo neste mundo para merecer logo o céu. É impossível! É dificílimo!... Sim, difícil, não há dúvida, mas impossível, nunca! Não digamos como tantos: contanto que eu arranje um lugar no purgatório... Por humildade, e em ver­dade, podemos falar assim, mas por covardia e para afrouxarmos no trabalho da nossa perfeição, nunca o podemos dizer, nem proceder assim. Havemos de fazer tudo para evitar o purgatório. “Aqui, disse Santa Catarina de Genova, pagamos com um, a dívi­da de mil, e na outra vida precisamos de mil para pa­gar um... Está em nossas mãos ganhar muito e pre­parar a entrada do céu logo depois da morte.

Santa Teresa viu almas entrarem no céu sem terem passado pelo purgatório. Procurar evitar o purgatório é o melhor meio de se livrar dele. Evite­mos o pecado venial, sejamos fiéis ao nosso dever, tenhamos uma grande pureza de intenção em nossos atos. Façamos muitas obras de caridade, fujamos de toda vaidade e hipocrisia em nossas ações, sejamos sinceros, humildes, simples, tenhamos paciência em nossos sofrimentos, sejamos resignados à vontade de Deus em todas as coisas. Quantos meios ao nosso alcance para evitarmos o purgatório! Zelemos a pu­reza de consciência e a pureza de intenção. Não é im­possível escapar do purgatório. Está em nossas mãos. Uma alma fervorosa se abrasa neste mundo nas cha­mas do Divino Amor que purifica cada dia mais e se santifica de tal modo, que logo se lhes abram as por­tas do céu.

Fazer esforços para evitar o purgatório não é, como dizem alguns, uma covardia. É glorificar a Deus, é estimular a nossa perfeição, é corresponder à graça com generosidade, enfim, é um dos meios mais poderosos e eficazes de santificação. Temos mui­ta miséria e fraqueza. Vivamos num estado de compunção, contritos e humildes. Não tenhamos a pre­sunção que perde tantas almas e as leva a esperar o céu com tão pouco sacrifício!

Enquanto estamos neste mundo, somos os milio­nários da graça e dos tesouros da Redenção. Somos mais felizes do que os Santos do céu e as almas do purgatório. Eles não podem mais merecer, nem tra­balhar para a salvação e para a glória do céu, como nós agora. Então, por que não aproveitarmos estas riquezas de valor infinito? Um dos maiores tormentos das pobres almas é o remorso. Que verme roedor! Pensarem elas que poderiam ter sofrido tão pouco e trabalhado um pouco mais, e já estariam no céu e te­riam salvo tantas almas e feito tanto bem quando estavam neste mundo, e desperdiçaram os tesouros do Sangue Precioso de Jesus e agora padecem tanto! Poderiam ter evitado o purgatório... E nós?


Meios de evitar o purgatório

O primeiro e o único verdadeiro é evitar o peca­do venial e toda imperfeição, exceto aquelas quase im­possíveis à fragilidade humana. Sem privilégio es­pecial não é possível ao homem evitar todas as fal­tas, diz o Concilio de Trento. Pelo menos, lutemos e tenhamos boa vontade. Tenhamos horror ao pecado, mesmo venial. Demos muita importância ao que é de perfeição, sobretudo os Religiosos à observância da Santa Regra. Há outros meios de evitar o purgató­rio. Entre eles, os meios sacramentais — o Batismo. Uma alma recém batizada que morre está livre de to­da pena, tem o céu imediatamente. Felizes as crian­cinhas inocentes e felizes, os que morreram com a ino­cência batismal!

A confissão frequente, bem praticada, com sin­cero arrependimento, com emenda de vida cada dia mais, é um meio poderoso de vigilância, de combate às faltas e imperfeições. Uma confissão semanal ou de quinze em quinze dias para lucrar as indulgências, e confissão sem rotina, bem preparada, bem contri­ta, como purifica a alma e vai fazendo seu purgató­rio nesta vida! Como é poderosa a absolvição que nos dá o sacerdote; e a penitência sacramental, embora tão pequena, tem muito valor para a remissão da pe­na temporal.

E a Eucaristia? Não apaga o pecado venial e nos purifica cada vez mais, dando-nos força para a luta? Ó, as almas eucarísticas, unidas ao Se­nhor na intimidade do seu Amor, abrasadas nas cha­mas deste Amor, podem temer as chamas do purga­tório? Purifiquem-se muito bem para a Comunhão aqui na terra, que estarão se purificando para a Visão eterna do céu logo após a morte. Uma alma verdadeiramente eucarística não teme o purgatório. De­pois, temos a riqueza da Extrema Unção e da Bênção apostólica na hora da morte. Falaremos depois destes meios, chaves do céu e libertadores do purgatório. E demais, os religiosos, por exemplo, têm os méri­tos da vida comum, as indulgências da Ordem ou Ins­tituto religioso, as penitências, as meditações, as boas leituras, enfim a multidão dos recursos espirituais que bem aproveitados, escrupulosamente, cada dia, sem ser mister que se entreguem a coisas extraordi­nárias e difíceis e até impossíveis, quantos meios para evitarem o purgatório com a simples fidelidade à Regra! A perfeita observância, como diz São Ber­nardo, pode levar da cela para o céu. “De cella ad coelum”.

Evitarão o purgatório as almas simples e ino­centes, aqueles pobrezinhos ignorantes que sempre viveram numa profunda humildade a servirem a Deus na simplicidade do seu coração. Quantos destes pe­queninos amados de Nosso Senhor após os sofrimen­tos desta vida não passam diretamente para o céu!

Enfim, é o segredo de Deus, o mistério insondável. E a caridade? Não nos foi prometido cem por um e o reino do céu pelas boas obras de misericórdia? Quem pode duvidar que uma alma caridosa que pas­sou a vida a fazer o bem aos pobres e desgraçados, não tenha o céu logo após a morte? Ó, sim, podemos evitar o purgatório, e direi mais, devemos evitar o purgatório. Esta é a vontade de Deus!


A Extrema Unção e indulgência apostólica

A Extrema Unção tem o poder de nos abrir logo as portas do céu. É a opinião do angélico Santo To­más: “A Extrema Unção acaba a cura espiritual do homem e faz desaparecer de sua alma tudo quanto poderia impedi-lo de entrar na glória e consuma sua preparação para a vida eterna”.

Supõe naturalmente que o enfermo a receba com as devidas disposições. A Extrema Unção é como que o complemento da penitência. Esta redime os pe­cados e aquela faz desaparecer os restos do pecado. Um dos efeitos da Extrema Unção é fortificar a al­ma contra o temor exagerado da morte e ajudá-la a se conformar inteiramente à vontade de Deus. Só este ato de conformidade, diz Santo Afonso, pode le­var uma alma logo para o céu sem passar pelo pur­gatório, porque é um ato de caridade de grande va­lor. Enfim, que tesouro desconhecido é a Extrema Unção, e tantos deixam de a receber na hora extrema porque os parentes e amigos, com receio de assustar o enfermo, o privam deste recurso! Na sua Teologia moral, Santo Afonso conta esta visão: Percebeu no purgatório a alma de um homem seu conhecido e foi-lhe revelado que este homem não teria morrido da doença que o levou a sepultura, se tivesse recebido a Extrema Unção. A virtude do Sacramento o teria curado e teria se livrado de um purgatório tão doloroso e menos longo do que o que estava padecendo [1].

Por que então deixar os enfermos sem a Extre­ma Unção, sob o pretexto de que é o sacramento que mata, apressa a morte e assusta o enfermo? Um dos efeitos do Sacramento é curar também o corpo, e o maior de todos, curar a alma de todos os males e consequências do pecado, e abrir-lhes as portas do céu. A Igreja, nossa Mãe, tem outro tesouro à nossa dis­posição na hora derradeira: é a Indulgência plenária ou apostólica. Esta indulgência nos pode abrir logo o céu. Vejam as preces do sacerdote ao dá-la aos en­fermos: “Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus Vivo, que deu ao Bem-aventurado Apóstolo Pedro o poder de ligar e desligar, pela sua piíssima misericór­dia, receba a tua confissão e te restitua a estola pri­meira que recebeste no Batismo. E eu, pela faculda­de que me foi dada pela Sé Apostólica te concedo a indulgência plenária e a remissão de todos os peca­dos em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo”.

Que beleza! A inocência do Batismo restituída a um pecador na hora da morte! Não é a porta do céu? E o sacerdote acrescenta, para confirmar a absolvi­ção: “Pela Sacrossanta Humanidade e pelos misté­rios da reparação humana, o Deus Onipotente te per­doe todas as penas desta e da futura vida, te abra as portas do paraíso e te leve à felicidade eterna”.

Haverá maior riqueza para um cristão? Até as penas da outra vida, isto é, as do purgatório estão remidas pela indulgência plenária. Meditemos bem as orações e o rito da Extrema Unção, procuremos nos preparar sempre para recebermos na hora derradeira com as devidas disposições a Indulgência plenária ou Apostólica.

Eis aí quantos meios de evitar o purgatório à nossa disposição! Não é pois verdade que podemos nos livrar do purgatório?


Exemplo

As Irmãs auxiliadoras do purgatório


Em 21 de Novembro de 1855 uma jovem piedo­sa lia num opúsculo, “O Mês do Purgatório”, por um autor desconhecido, esta página profética e suplicante:

“Ó Espírito Santo, vós suscitastes, em épocas di­ferentes, ordens religiosas de toda espécie para todas as necessidades da Igreja militante. Ó Pai das Luzes, cheios de compaixão e de zelo pelos mortos, nós vos suplicamos, suscitai também em favor da Igreja pa­decente uma nova ordem cujo fim principal seja se ocupar dia e noite no alívio e na libertação das almas do purgatório...”.

Quem lia isto, comovida e inspirada, era a senhorita Eugênia Maria José Desmet. Sempre foi uma alma piedosa e desde pequenina teve uma devoção ardente pelas almas do purgatório e uma inclinação pelos pobres e miseráveis, aos quais procurava sem­pre amparar caridosamente. Ao ter a inspiração tão forte da fundação de uma obra para socorro das al­mas do purgatório, não pode mais ter sossego. Era uma alma sincera, um espírito muito equilibrado e nada sujeito a fantasias. Neste mesmo dia 1.º de Novembro, ao sair da igreja, a senhorita Desmet en­contra uma amiga que lhe fala na necessidade de uma associação em favor das almas do purgatório. Era uma coincidência muito estranha! A piedosa jovem sabia que era necessário agir, mas tinha medo de ilu­sões, e pediu a Nosso Senhor alguns sinais da sua Santa Vontade. Queria cinco graças: a bênção do Pa­pa para a obra — a aprovação de diversos Bispos — a extensão rápida da Associação — um certo número de almas piedosas que se destinassem a este aposto­lado — e um padre que tivesse a mesma idéia.

Em menos de dois anos alcançou tudo quanto de­sejava. O projeto foi apresentado a Pio IX, que o aprovou de todo coração. Diversos senhores Bispos, e entre eles o Arcebispo de Paris, deram a sua bên­ção e aprovação rapidamente. O padre que tivesse a mesma idéia, seria o Santo Cura d’Ars. A senhorita Desmet nunca viu nem escreveu ao Cura d’Ars, mas através do Pe. Tocanier coadjutor do Santo, foi este consultado. São João Maria Vianney disse: “Diga a ela, referia-se a M. Desmet, diga a ela que estabeleça uma congregação pelas almas do purgatório quando ela quiser”.

Não ficou satisfeita ainda a senhorita. Queria que o Santo Cura d’Ars meditasse e rezasse para sa­ber se era da vontade de Deus o projeto. Assim o fez. Num dia de finados, o Santo passou de joelhos longa hora, rezou muito e levantando-se com os olhos ba­nhados em lágrimas, disse ao Pe. Tocanier: “A obra é inspirada por Deus, foi Deus quem inspirou uma tal dedicação. Duas coisas pode ter certeza: que apro­vo a vocação dessa senhorita à vida religiosa e a fun­dação desta congregação, que há de se estender rapi­damente pela Igreja; está aí uma obra que Nosso Senhor pede há muito tempo”.

A respeito do noviciado, disse o Cura d’Ars: “Poucas para começar, mas bem escolhidas e de boa semente...”.

O Pe. Olivant poderia mais tarde dizer das fun­dadoras: é um punhado de almas de elite.

Qual o fim do Instituto nas obras? Foi ainda o Cura d’Ars quem o inspirou: trabalhar pelas almas do purgatório, dedicando-se às obras de caridade. “Realizareis, disse ele às fundadoras, realizareis a ple­nitude do espírito de Jesus Cristo, aliviando ao mes­mo tempo os seus membros sofredores na terra e no purgatório”.

Em 19 de Janeiro de 1856, Eugênia Smet che­gou a Paris e se retirou com algumas companheiras, suscitadas por Deus, numa residência modesta . Três dias depois foi procurar o Arcebispo Mons. Sibour, que a recebeu com muito carinho e prometeu fazer tudo pela obra. Em Junho do mesmo ano estava a Congregação estabelecida. Vieram muitas provações.

Em pouco tempo a morte do Arcebispo e do Santo Cura d’Ars. Não obstante, a obra prosperou. Em 27 de Fevereiro de 1871, Pio IX deu o Breve de apro­vação e Leão XIII, em 1878, aprovou as Constitui­ções. As Irmãzinhas do Purgatório abriram casas em outras nações e foram até para a China realizar o seu programa: glorificar a Deus socorrendo as almas do purgatório, aliviando todas as misérias hu­manas.

Madre Maria da Providência foi o nome da senho­rita Smet em religião.

Foi admirável esta santa criatura! Passou dolo­rosas provações, mas tudo venceu heroicamente. O Cura d’Ars lhe havia profetizado muitas cruzes: “Vossas cruzes são flores que hão de dar muitos fru­tos. Só vós haveis de saber um dia quanto sofrimen­to vos há de custar para firmar vossa obra. Porém se Deus está convosco, quem será contra vós?”. A profecia se realizou. “A Igreja padecente deve ter mártires neste mundo, dizia Madre Maria da Provi­dência”. Dizia ela também, gemendo de dor na doença: “Amar sofrendo e sofrer amando para vos dar almas, ó meu Jesus!”. É preciso sofrer para pagar tantas graças!

No Instituto das Irmãzinhas do Purgatório duas devoções se cultivam com amor: a do Sagrado Co­ração de Jesus e da Providência Divina. A piedade e devoção a Maria Santíssima é tudo na obra sob a invocação de Nossa Senhora da Divina Providência. Cada dia e a cada hora hão de repetir as Irmãs: “Meu Deus, nós vos oferecemos pelas almas do purgatório todos os atos de amor pelos quais o Sagrado Coração de Jesus vos glorificou nesta mesma hora, quando estava na terra”.

Não é uma bela invocação que podemos também adotar?

Rezar, sofrer, trabalhar! Era o lema da Madre Maria da Providência, fundadora das Irmãzinhas do Purgatório. Seja o nosso lema: rezar, sofrer e tra­balhar pelas almas do purgatório! — (Vie de la R, M. Marie de la Providence).



[1] Cit. Rousic — “Le Purgatoire”.

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