Fonte: Permanência
[Nota Permanência] Como soará a divisa
de S. Pio X, “Instaurare omnia in Christo” aos
leitores modernos, tão acostumados ao liberalismo que hoje triunfa nas nações?
Utopia? Arcaísmo? O exemplo de D. Gabriel García Moreno, ex-presidente do
Equador e mártir da Fé, contudo, é resposta contundente, tanto pelo sucesso de
seu governo como pela aclamação de seu povo. É a resposta que um católico deve
dar, é o modelo daquilo que devemos buscar, mormente nestes tempos de eleição,
para o governo de nossa pátria, cevada, também ela, com o sangue de mártires (v.
neste site o artigo “Os Protomártires do Brasil).
Que Nossa Senhora Aparecida nos proteja
a todos os brasileiros, e com estes augustos exemplos nos ajude a tornar esta
terra digna de sua padroeira!
A FABULOSA HISTÓRIA DE D. GABRIEL
GARCÍA MORENO
O valor do ex-presidente do Equador D.
Gabriel García Moreno se descobre pelo que nos narra J. M. VilleFranche, “Pio
IX chorou D. García Moreno como vinte e sete anos antes tinha chorado o conde
Rossi. Em muitas das suas alocuções elogiou o presidente do Equador, como o
campeão da verdadeira civilização, e seu mártir. Mandou-lhe fazer exéquias
solenes numa das basílicas de Roma, dispondo e ordenando que seu busto fosse
colocado em uma das galerias do Vaticano. Moreno não pertencia à sua época;
estava atrasado dois séculos na política, e deveria ter nascido na época de S.
Luís...” Com estas palavras fica feito seu maior elogio.
Mas tão altas homenagens D. Gabriel
Garcia Moreno não as recebeu apenas do Clero. Com efeito, qual outro presidente
de nossos dias poderá gloriar-se de honras como as que abaixo reproduzimos,
prestadas a ele pelo Senado e pela Câmara da República do Equador, reunidos em
Congresso?
“Considerando que Sua Excelência o
doutor García Moreno, por sua distinta inteligência, vastíssima ciência e
nobres virtudes, está acima entre os mais ilustres filhos do Equador; que
consagrou sua vida e as raras e elevadíssimas faculdades de seu espírito e de
seu coração à regeneração e grandeza da República, estabelecendo instituições
sociais sobre a sólida base dos princípios católicos; que amou a religião e a
pátria a ponto de padecer por elas o martírio; que dotou a nação de imensos e
inegáveis benefícios materiais e religiosos:
“Decretamos: Artigo I — O Equador, por
intermédio de seus legisladores, glorifica a memória de D. Gabriel García Moreno,
com denominação deilustre regenerador da pátria, e mártir da civilização
católica [destaque
nosso]; — Artigo II . Para a conservação de seus restos mortais será construído
um mausoléu digno dele — Artigo III. Mandar-se-á erigir-lhe uma estátua em
mármore ou em bronze com esta inscrição: Ao excelentíssimo D. Gabriel García
Moreno, presidente da República do Equador, morto pela pátria e pela religião a
6 de agosto de 1875.
“Quito, capital do Equador, 30 de
agosto de 1875.”
O leitor, habituado ao liberalismo que
pensa triunfar, espantar-se-á com os largos elogios à piedade do presidente.
Mas, em verdade, o ex-presidente do Equador foi, antes de tudo, um herói da Fé
e um campeão da moral católica:
“Na abertura das câmaras legislativas
de 1873, o presidente desta República, D. Gabriel García Moreno, terminou sua
mensagem por estes termos:
‘Mas nossos rápidos progressos não nos
serviriam de coisa alguma se a República não progredisse em moralidade à medida
que aumentava em opulência, se os costumes se não reformassem pela ação livre e
poderosíssima da Igreja Católica.
‘Nós ainda havemos de colher frutos
mais abundantes, quando os obreiros apostólicos forem mais numerosos, e quando
não faltarem em paróquias populosas sacerdotes para as administrar. Devemos
portanto coadjuvar, quanto nos seja possível, nossos veneráveis bispos.
‘As missões orientais reclamam também
vossa generosa proteção. A verdadeira civilização, a civilização da Cruz, tem
penetrado admiravelmente as margens do Napo, graças aos missionários que para
aqui se têm transportado com a aprovação do governo; e as escolas, devidas ao
zelo dos infatigáveis filhos da Companhia de Jesus, preparam para territórios
riquíssimos, mas incultos, dias esplêndidos de opulência e prosperidade. Tenho
a firme convicção de que em breve há de aumentar muito o número de
missionários.
‘O estado de nossas finanças
permite-nos que satisfaçamos liberalmente o dever que nos impõe a concordata,
de animar e facilitar as missÕes, assim como a obrigação de contribuir para as
reparações e restaurações dos templos arruinados pelos tremores de terra.
‘Não é menos imperioso o dever que
incumbe de socorrer Nosso Santo Padre, o Papa, agora que ele se acha despojado
de seus domínios e rendimentos. Podeis destinar-lhe dez por cento sobre a
décima parte concedida ao Estado. A oferta será modesta, mas provará pelo menos
que somos filhos leais e afeiçoados ao Pai comum dos fiéis, e assim o
continuaremos enquanto continuar o triunfo efêmero da usurpação italiana.
‘Pois, já que temos a felicidade de ser
católicos, sejamo-lo em nossa vida privada, em nossa existência política, e
confirmemos a sinceridade de nossos sentimentos e palavras pelo público
testemunho de nossas obras.
‘E, não contente ainda em realizar tudo
quanto acabo de indicar, devemos riscar também dos nossos Códigos até aos
últimos vestígios de hostilidade contra a Igreja, porque aí se exibem certas
disposições das antigas e opressoras regalias espanholas. Tolerá-los seria de
hoje em diante uma vergonhosa contradição e uma miserável falsidade.
‘Igual procedimento deveria ser em todo
o tempo o de um povo católico; mas hoje, nesta época da implacável e universal
guerra contra nossa santa religião, hoje os apóstatas chegam até a renegar em
suas blasfêmias a divindade de Jesus, nosso Deus e nosso Salvador; hoje, quando
tudo se reúne, tudo se revolta contra Deus e seu Ungido, quando uma torrente de
malvadez e de ódio rebenta das profundezas da sociedade abalada, contra a
Igreja e contra a própria sociedade, como nas terríveis comoções do globo
terrestre surgem dos abismos desconhecidos rios caudalosos de um lodo corrupto,
hoje, repito, este procedimento coerente, resoluto e corajoso é para nós
obrigatório, porque a inação durante o combate seria o mesmo que uma traição e
uma covardia.
‘Continuemos portanto nossa obra com
invencível fidelidade, como convém a verdadeiros católicos, sem ater nossa
esperança a nossas débeis forças, mas sim na poderosíssima proteção do
Altíssimo. Felizes, mil vezes felizes, se o Céu nos conceder a recompensa de
continuar a cumular a nossa querida pátria de suas bênçãos, e feliz também de
mim, se chego a merecer o ódio, as calúnias, e os insultos dos inimigos de
nosso Deus e de nossa religião!’”
Selando esta magnífica mensagem, D.
García Moreno mandou seguir a primeira remessa de 10.000 pesos, dirigidos em
nome do Equador, ao Santo Papa. Logo após, consagrou sua República ao Sagrado
Coração de Jesus, e ofereceu auxílio aos vinte e dois religiosos da abadia de
Mariastém, expulsos da Suíça.
Como que pela lente de um fantástico
túnel do tempo, todos as nações puderam sentir, em pleno século XIX, um novo
sopro da cristandade medieval sob o governo de um presidente sinceramente
católico. Sua obra, lastimavelmente, não serviu ao escarmento dos grandes, que,
ao contrário, zombavam dele ou simplesmente o ignoravam.
A estes respondeu D. García Moreno com
o êxito de seu governo e com a retidão de sua vida.
VilleFranche descreve o período em que
governou D. García Moreno como “uma época gloriosa de paz, de progresso, tanto
na ordem material como no sentido religioso, intelectual e moral”. Em seu
governo saldou a dívida pública do Equador, e isto apesar da supressão de
determinados impostos e do aumento geral dos ordenados. “Deus”, diz
VilleFranche, “abençoou tão visivelmente a política de García Moreno, que
dentro de doze anos o Equador, admiravelmente administrado por esse grande
cidadão, viu duplicar seu comércio, suas escolas e a cifra dos orçamentos
públicos.”
Ademais, construiu 44 km de estradas de
ferro, 300 km de rodovias e 400 km de estrada muito sofrível para cavaleiros e
caminhantes: foi uma obra gigantesca, a que se acrescentam as dificuldades
devidas à distância dos centros populacionais e à natureza montanhosa do
terreno.
Escutemos VilleFranche: “De 1861 a
1875, abriu no território de seu pequeno Estado 93 escolas para os filhos do
povo, as quais foram freqüentadas por 32.000 crianças. Até esta reorganização
da instrução pública as poucas escolas do Equador eram seculares e
universitárias.
“Mas cheio de admiração pelos irmãos da
doutrina cristã que ele conhecera em Paris, os quais reuniam tão excelentemente
as qualidades de mestre, não hesitou em confiar-lhes todas as escolas. E apesar
de numerosos obstáculos, tais como o descuido dos pais, a indolência das
crianças, a dispersão das populações rurais, dentro em quatro anos a instrução
primária se achava num estado que nada tinha para invejar às nações européias.
“A instrução secundária e superior
mereceu igualmente toda a sua solicitude. A fundação do colégio de S. Gabriel,
ao qual a nação deu por gratidão o nome do ilustre presidente, a instituição da
Escola politécnica, da Universidade e de um observatório astronômico, um dos
mais importantes do universo, a criação dum Conservatório de música e de
diferentes museus foram o donativo que ele fez à ciência e às belas-artes.
Todavia, a caridade achou-o talvez ainda mais generoso. Hospitais, cadeias,
asilos, recolhimentos para órfãos, oficinas dirigidas pelas Filhas da caridade,
tais são os títulos que ele tem à gratidão dos membros do cristianismo.”
Vejamos agora como ele mesmo descreveu
seu governo, numa mensagem datada de 6 de agosto de 1875, a mesma data em que foi
assassinado:
“Senhores deputados [...], ainda há
poucos anos, o Equador repetia todos os dias as mesmas lástimas que o
libertador Bolívar dirigia em sua derradeira mensagem ao congresso de 1830:
‘Envergonho-me de o confessar: a independência é o único bem que adquirimos, ao
preço de todos os outros’.
“Mas, depois que, depositando em Deus
toda a nossa esperança, nos afastamos da torrente da impiedade e da apostasia
que arrasta o mundo nesta época de cegueira, e nos reorganizamos em 1869 como
nação verdadeiramente católica, tudo vai mudando proporcionalmente, a favor da
prosperidade de nossa querida pátria.
“Antigamente, o Equador achava-se como
um corpo ao qual vai faltando a vida, vendo-se já devorado como os cadáveres
por essa multidão de vermes esquálidos que a putrefação faz rebentar na
escuridão do sepulcro; mas hoje, à soberana voz que ordenou a Lázaro se
levantasse de seu túmulo, voltou de novo à vida, posto que conserve ainda os
laços e a mortalha, isto é, os restos da miséria e da corrupção em que
estivemos envolvidos.
“Para justificar o que acabo de dizer,
bastará que vos dê uma conta sumária de nossos progressos durante estes últimos
anos, referindo-me às informações especiais de cada Ministério para tudo o que
diz respeito aos documentos e minudências; e finalmente, para que exatamente se
saiba quanto temos progredido neste período de regeneração, compararei o estado
atual com o antecedente, não para nos gloriarmos, mas para glorificar aquele a
quem devemos tudo, e que adoramos como nosso redentor e nosso pai, como nosso
protetor e nosso Deus.
“[...]
“À completa liberdade que goza a
Igreja entre nós e ao zelo apostólico de nossos virtuosos pastores devemos a
reforma do clero, o melhoramento dos costumes e a diminuição dos crimes, a ponto
que, numa população de mais de mil habitantes, não se acha número suficiente de
criminosos para habitar a ‘penitenciária’.
“À Igreja devemos ainda essas
corporação religiosas que tão magníficos frutos têm produzido para o ensino da
infância e da mocidade, e pelos socorros que prodigaliza aos enfermos e
necessitados. Afora isto, também lhe somos devedores do restabelecimento do
espírito religioso neste ano de Jubileu e de santificação, assim como da
conversão à vida cristã e civilizada de 9.000 selvagens da província do
Oriente, onde é necessário, em razão de sua grande extensão, estabelecer um
segundo vicariato. Se me autorizais a solicitar esta fundação da Santa Sé, nós
cuidaremos em seguida do que é necessário para promover o comércio nesta
província, destruindo assim, como já se tem feito, as especulações e as
violentas exigências a que esses pobres habitantes estão expostos por cruéis e
desumanos traficantes.
“[...]
“Dentro de alguns dias finda o período
do mandato pelo qual fui eleito em 1869. A República tem gozado seis anos de
paz, apenas interrompidos durante alguns dias em Riobamba, pela revolta parcial
da raça indígena contra a raça branca em 1872, e neste seis anos tem marchado
resolutamente na vereda do verdadeiro progresso, sob a proteção visível da
Providência. Os resultados obtidos teriam na verdade sido maiores, se eu
possuísse para governar as qualidades que, infelizmente, me faltam, ou se, para
fazer o bem, fosse bastante desejá-lo ardentemente.
“Se tenho cometido faltas, peço-vos mil
e mil vezes perdão; peço-o com lágrimas muito sinceras a todos os meus
compatriotas, e persuadi-vos de que não foi por minha vontade. E, se, pelo
contrário, pensais que fui feliz em qualquer assunto, atribuí-o primeiro ao
merecimento de Deus e à imaculada Dispensadora dos inesgotáveis tesouros de sua
misericórdia, e em seguida a vós mesmos, ao povo, ao exército, a todos aqueles
que, nos diferentes ramos da administração, me têm ajudado com inteligência e
fidelidade no cumprimento de meus dificultosíssimos deveres.”
“Pero Dios no se muere!”
D. Gabriel García Moreno era muito
querido por seu povo, que lhe admirava as altas virtudes de sábio e a retidão
de sua vida. Com efeito, nutria um ardente amor pelas ciências, o que o levou a
assumir, antes do mandato presidencial, a reitoria da Universidade de Quito,
onde lecionara Química e Física. Cultíssimo — era versado também em Medicina,
Literatura e Teologia — tomou a direção da imprensa, e, hábil polemista,
terminou por incomodar o então presidente general Urbino, que o desterrou.
D. García Moreno retornou à pátria em
1861, quando, por aclamação, assumiu pela primeira vez o governo do país.
VilleFranche nos relata um governo impressionante:
“Em 1861, seus concidadãos, admiradores
de suas virtudes e de seus serviços, deram prova de grande eqüidade chamando-o
para os governar por um período de quatro anos.
“Foi então que o Peru e a Nova Granada
declararam guerra ao Equador, dando ocasião a D. García Moreno de se mostrar
hábil general sobre terra, e verdadeiro João Bart sobre o mar. A esquadra
inimiga, composta de cinco navios, bloqueou Guayaquil. Enganando a vigilância
dos assaltantes, o jovem presidente saiu de noite com 300 homens e três peças
de artilharia para um paquete inglês que acabava de entrar a barra, e na manhã
seguinte, ao romper do dia, precipitava-se a toda a força sobre os navios
estrangeiros, os quais nem mesmo tiveram tempo de levantar âncora. Dois destes
navios foram a pique, e os outros, arriando bandeira, se entregaram à discrição
do vencedor.”
D. García Moreno foi reeleito
presidente em 1869 por seis anos, período em que a força de seu caráter, aliada
a uma inabalável retidão moral, produziram atos verdadeiramente heróicos. Cito
um apenas:
“Num estabelecimento de correção que
ele tinha fundado no interior da República, a 150 léguas da capital, estavam
reunidos alguns condenados e algumas desgraçadas de vida pouco edificante.
Apesar da prosperidade que em pouco tempo adquiriu esta verdadeira colônia, em
conseqüência da boa administração que lhe deram, rebentou ali subitamente uma
revolução. Em lugar de mandar soldados para submeter os revoltosos à
obediência, dirigiu-se ele para lá só com seu ajudante. Logo que os amotinados
souberam da chegada do presidente, dirigiram-se para a casa em que se
hospedava, na intenção de o matar. Logo que seus brados anunciaram a presença
dos facínoras, Moreno apareceu à janela e disse-lhes: ‘Se quereis assassinar-me
por que vos salvei da corrupção e da miséria, entrai e feri.’ Esta multidão
furiosa, ouvindo estas palavras, ficou suspensa e penetrada por este rasgo de
heroísmo, e rompeu em aclamações e vivas entusiastas ao presidente.”
Tudo seguia bem até aquela data de 6 de
agosto de 1875. Dado que esperava sofrer alguma agressão, mantinha-se sempre
preparado: e nessa mesma manhã em que havia de ser assassinado, comungara.
Dirigia-se ao Congresso, onde leria a mensagem já reproduzida. No caminho
passou por uma catedral aberta para um enterro, e não resistiu: entrou e
ajoelhou-se entre a multidão.
Tão logo saiu da catedral, recebeu seis
tiros disparados por sicários estrangeiros, a soldo de organizações secretas, e
tombou. Já no chão, fitou seus algozes e bradou: “Eu morro, mas Deus não morre. ¡Dios no se muere!” Quando os padres da
catedral chegaram, ainda respirava. Transportaram-no para o interior da
catedral, e o depositaram aos pés da estátua de Nossa Senhora das Sete Dores.
Um dos padres suplicou que perdoasse aos assassinos. Sem poder falar, respondeu
com os olhos que já o fizera. Recebeu a extrema-unção e ali mesmo expirou.
Morreu santo o pai do Equador.
*
No bolso de seu paletó encontrava-se
uma cópia da Imitação
de Cristo, e uma regra que García Moreno
escrevera para seu próprio uso. Reproduzimo-la parcialmente:
“Toda manhã, ao fazer minhas orações,
pedirei especialmente pela virtude da humildade.
“Todo dia assistirei à Missa, direi o
Rosário e lerei, além de um capítulo da Imitação,
esta regra e as instruções anexas.
“Tomarei o cuidado de manter-me tanto
quanto possível na presença de Deus, especialmente na conversação, para que não
diga palavras inúteis. Oferecerei constantemente meu coração a Deus,
principalmente antes de iniciar qualquer ação” [...].
“Em meus aposentos, nunca rezar sentado
quando puder fazê-lo ajoelhado ou de pé. Praticar pequenos atos diários de
humildade, como beijar o chão, por exemplo. Desejar todos os tipos de
humilhação, e, ao mesmo tempo, fazer para que não os mereça. Regozijar quando
minhas ações ou minha pessoa são abusadas e censuradas.
“Farei um exame particular duas vezes
por dia em meu exercício de diferentes virtudes, e um exame geral toda noite.
Confessar-me-ei semanalmente.”(*)
Tortuosa como a história dos homens
neste vale de lágrimas desde o pecado original, assim seguiu a história do
Equador: após 20 anos um liberal, Eloy Alfaro, assumiu a presidência do País.
E, antípoda de D. García Moreno, decidiu-se a levar o Equador rumo à “era
moderna” e reduzir o poder eclesiástico. Com efeito, proclamou a liberdade
religiosa, estabeleceu o casamento civil, confiscou as terras da Igreja,
permitiu divórcios e incentivou a educação não-religiosa. Seus correligionários
chegaram ao ponto de revogar a dedicação do Equador ao Sagrado Coração de
Jesus.
Eloy perdeu a popularidade e a
presidência em seu segundo mandato. Recusando-se a deixar o cargo, terminou
deportado para o Panamá. Ao tentar retornar, quatro meses depois, terminou
enforcado.
“Sôbolos rios que vão
Por Babilônia, me achei,
Onde sentado chorei
As lembranças de Sião
E quanto nela passei.”
Por Babilônia, me achei,
Onde sentado chorei
As lembranças de Sião
E quanto nela passei.”
Que o exemplo de D. García Moreno nos
sirva a todos como as lembranças do poeta. Para que, se não pelas lágrimas, ao
menos pela admiração apreendamos a não mais trocar Sião por Babilônia.
Nota:
Todos as citações são do livro Pio
IX, de J. M. VilleFranche. exceto (*)
Gary Potter, GabrielGarcía Moreno, Statesman and Martyr. O poema acima, Babel e Sião, é de
Luís de Camões.
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