quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas! — 21 de Novembro: Maria Santíssima, Mãe e Consoladora do purgatório (Parte XXII)



Nota do blogue:  Acompanhe esse Especial AQUI.

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão

Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre






21 de Novembro

MARIA SANTÍSSIMA, MAE E CONSOLADORA DO PURGATÓRIO


Maria pode socorrer as almas



Um dia, escreve Santa Brígida nas suas Reve­lações, disse-me a Virgem Santíssima:

— “Eu sou a Rainha do céu, eu sou a Mãe de misericórdia, e o caminho por onde voltam os pecadores a Deus. Não há pena no purgatório que não se alivie e que por mini não se torne menor do que si o fora sem mim”[1]. Outra vez a Santa ouviu Jesus dizer à sua Mãe: “Tu és minha Mãe, és a Rainha do céu, és a Mãe de mi­sericórdia, és o consolo dos que estão no purgatório e a esperança dos pecadores na terra”[2]. A provi­dencia maternal de Nossa Senhora se estende sobre seus filhos na terra e no purgatório. Ela nos socorre e ajuda até depois da morte nas chamas expiadoras. É uma verdade de fé que as almas do purgatório po­dem ser não só aliviadas em seus padecimentos, mas até libertadas das chamas expiadoras pelas orações, sa­tisfações e boas obras, e pelo Santo Sacrifício da Missa, enfim, pelos sufrágios dos vivos. Todavia, a Igreja nada definiu sobre o socorro que possam os Santos do céu dar às almas padecentes. Não houve necessi­dade de uma definição, porque o que os hereges con­testaram desde Lutero principalmente, foi o sufrágio dos vivos e até a existência do purgatório. Quem en­tretanto pode negar que a Igreja triunfante possa au­xiliar a Igreja padecente?

Segundo Santo Tomás de Aquino, duas coisas concorrem para que o sufrágio dos vivos aproveitem aos mortos: a caridade que une a todos, e a intenção que tem eles de socorrer os mortos. Quanto ao pri­meiro, nenhum meio existe maior de um vínculo de caridade que o Santo Sacrifício da Missa, o Sacra­mento que é o vínculo dos fiéis da Igreja. Quanto à outra, a oração, tem a vantagem de levar nossa in­tenção diretamente a Deus quando se invoca a Divina Misericórdia.

Ora, quem pode negar que os Santos do céu já purificados, possuam a caridade em estado de perfei­ção na glória e a intenção reta de ajudar às benditas almas sofredoras? Quem melhor do que eles conhece o sofrimento daquelas almas? Não há dúvida, os San­tos na glória podem e socorrem as almas do purga­tório. Quanto mais a Rainha dos Santos!

Contestaram alguns com subtilidades teológicas que Maria nada poderia fazer pelas almas entregues à Justiça Divina no purgatório. “Alguns autores, diz o piedoso Pe. Faber, pretendem que a Santíssima Vir­gem não pode ajudar as almas do purgatório senão de uma maneira indireta, porque não está mais em esta­do de satisfazer por elas. Não gosto de ouvir isto. Não gosto que falem de uma coisa que nossa terna Mãe não possa fazer”[3].

Pois se Maria tem todo poder no céu e na terra, se é Mãe dos remidos, Mãe de Deus, não há de poder socorrer como e quando queira os seus filhos da Igre­ja padecente?

Sim, não há teólogo seguro que o conteste, e a tradição de tantos séculos confirma esta consoladora verdade: Maria socorre seus fiéis servos depois da morte. Estende até o purgatório seu manto prote­tor de Mãe e Refúgio dos pecadores.


Como socorre Maria as almas sofredoras?


Há muitas maneiras do poder misericordioso de Maria socorrer às benditas almas padecentes. O pri­meiro meio e mais frequente, diz o Pe. Terrien, S. J.[4] é o pensamento e a vontade que inspira aos fiéis ainda vivos neste mundo, de orar, sofrer e tra­balhar pela libertação das pobres almas. Quantos de­votos de Nossa Senhora não sentem de repente uma inspiração, um desejo de sufragar os seus mortos queridos ou o desejo de trabalharem pelo sufrágio do purgatório! É a Mãe bendita quem inspira estes bons desejos e resoluções. Não tem Ela nas mãos os cora­ções de seus filhos? Um dia um santo Irmão coadju­tor da Companhia de Jesus orava fervorosamente diante de uma imagem da Virgem Imaculada. En­quanto rezava, veio-lhe um certo escrúpulo do pouco zelo que tinha em orar e sufragar as almas do pur­gatório. Uma voz misteriosa lhe disse, então:

— “Meu filho, meu filho, lembra-te dos defuntos!

— Sim, minha Mãe, o farei doravante, respondeu o piedoso Irmão. E desde aquele dia se entregou às boas obras e sacrifícios e orações pelas almas[5].

Quantas vezes Nossa Senhora em tantas reve­lações particulares pediu orações pelos mortos! Ain­da em Fátima recomenda aos Pastorinhos a jaculatória: Meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do in­ferno, aliviai as almas do purgatório, especialmente as mais abandonadas!”. Maria, pois, ajuda os fiéis do purgatório inspirando sufrágios aos seus filhos da terra e depois, oferecendo por estas almas cativas, não as satisfações atuais, pois no céu não há sofri­mento nem expiação, mas o que Ela padeceu e mere­ceu neste mundo. Haverá maior tesouro depois dos méritos de Cristo que os méritos de Maria?

Maria Santíssima, pois, por estes dois meios po­de e realmente socorre as almas. A Igreja, na sua liturgia, confirma esta piedosa crença e esta verdade consoladora quando assim ora na Missa dos Defun­tos: “Ó Deus que perdoais aos pecadores e desejais a salvação dos homens, imploramos a vossa clemên­cia por intercessão da Bem-aventurada Maria sempre Virgem, e de todos os Santos em favor de nossos ir­mãos, parentes e benfeitores que saíram deste mun­do, a fim de que alcancem a bem-aventurança eterna”.

Por terem as almas maior precisão de socorro, escreve Santo Afonso de Ligório, empenha-se a Mãe de Misericórdia com seio ainda mais intenso em au­xiliá-las. Elas muito padecem e nada podem fazer por si mesmas. Diz São Bernardino que Maria desce ao cárcere do purgatório onde tem certo domínio e poder para aliviar e libertar estas esposas de Jesus Cristo. Trás alívio às almas. Aplica-lhes o Santo es­ta palavra do Eclesiástico: Caminho por sobre as on­das do mar[6]. Compara as ondas às penas da pur­gatório, porque são transitórias, e por isso diferentes das do inferno, que nunca passam. Chama-as 0ndas do mar porque são penas muito amargas. Os de­votos da Virgem, aflitos com estas penas, são por Ela visitados e socorridos frequentemente. Eis, pois como socorre Maria as almas do purgatório.


Nossa Senhora do Carmo, Mãe do purgatório


As aparições da Virgem Misericordiosa a São Simão Stokler e ao Papa João XXII são muito conhe­cidas e hoje a piedade de toda Igreja tem na devoção à Virgem do Carmo um motivo para chamar a Nossa Senhora Mãe e Rainha do purgatório. Diz a Mãe de Deus a São Simão: “Recebe, meu querido filho, este escapulário de tua ordem como sinal distintivo da minha confraria e prova de privilégio que obtive para ti e para os filhos do Carmo. Aquele que morrer re­vestido do escapulário será preservado das penas do outro mundo. É um sinal de salvação, uma defesa nos perigos, o penhor de paz e proteção especial até o fim dos séculos”. Promete a Virgem a proteção aos seus fiéis devotos do escapulário. Esta promessa foi confirmada setenta anos depois, após uma revela­ção feita por Maria ao Papa João XXII. Declarou este Pontífice numa Bula, que estando em oração, Maria lhe apareceu e disse: “João, Vigário de meu Filho, és devedor da alta dignidade a que chegaste a mim, que pedi por ti. Eu te livrei dos laços dos teus adversários; espero de ti uma confirmação da Ordem do Carmo, que me foi sempre especialmente dedicada. Se entre os religiosos ou confrades, quando morrerem, se acharem alguns cujos pecados tiverem merecido o purgatório, eu descerei como terna Mãe no meio de­les, no purgatório, no sábado que seguir a sua morte. Livrarei aqueles que eu lá encontrar e os levarei à Montanha Santa, à feliz morada da vida eterna”.

É Maria revelando-se Mãe carinhosa das almas do purgatório.

A arte cristã sempre representa a Virgem do Carmo estendendo o seu escapulário sobre o purgató­rio onde as almas em meio das chamas expiadoras le­vantam os braços e olhos suplicantes implorando a misericórdia da boa Mãe e procurando no escapulário um meio de saírem das chamas.

Como isto é significativo e simbólico! Não é esta a Missão da Virgem Santíssima, Consolo e alívio e libertação do purgatório e o que encontram com segu­rança os devotos verdadeiros de Maria Santíssima? Podemos crer no grande privilégio dos Carmelitas. A Sagrada Congregação das Indulgências em 1.° de De­zembro de 1886 decidiu: “Seja permitido aos Padres Carmelitas pregarem ao povo que se pode crer pie­dosamente na assistência que esperam os Irmãos e confrades da Irmandade de Nossa Senhora do Carmo, a saber: que esta Senhora ajudará com suas orações contínuas e sufrágios e méritos e com uma proteção especial depois da sua morte (princi­palmente ao sábado, dia que lhe está consagrado pela Igreja), aos irmãos e confrades falecidos na carida­de, com a condição de que tenham levado durante a vida 0 escapulário, guardado a castidade de seu esta­do, rezado 0 Ofício Parvo, ou se não puderam rezá-lo, que hajam observado os jejuns da Igreja e abstido de carne nas quartas e sábados”.

Este decreto foi publicado em Roma em 15 de Fevereiro de 1615 pelo Santo Ofício. Ora, não é a Igreja confirmando a consoladora doutrina da assis­tência e proteção de Maria sobre o purgatório? Invo­quemos sempre a Mãe querida das pobres almas do purgatório. Sejamos devotos da Virgem do Carmo e do Santo Escapulário.



Exemplo

Maria liberta as santas almas nas suas festas


Diz o Venerável Dionizio Cartuziano que cada ano, nas grandes festas, a Mãe de Deus desce ao pur­gatório e liberta muitas almas do sofrimento, levan­do-as para a glória, sobretudo nas festas da Páscoa, do Natal e da Assunção. São Pedro Damião conta a propósito um caso que diz ter ouvido de um sacerdo­te fidedigno. Vou traduzi-lo do latim tal como o dei­xou escrito São Pedro Damião:

“Uma mulher em Roma entrou no dia da As­sunção na basílica erigida em honra da Santíssima Virgem no Capitólio. Grande foi a sua surpresa ao ver ali uma das suas vizinhas, que um ano antes ha­via morrido. Não podendo chegar-se a ela pela multi­dão que enchia o templo, foi esperá-la ao sair da igre­ja numa das ruas estreitas da cidade, por onde havia de passar.

— Não és Marozia, minha vizinha, lhe pergun­tou, que morreu há cerca de um ano?

— Sim, sou eu mesma.

— E como estás aqui?

E Marozia confessou que havia sofrido muito no purgatório por umas faltas da meninice e acrescentou: ‘Hoje, porém a Rainha do mundo rogou por mim e tirou a mim e a muitas outras almas do lugar da ex­piação e é tão grande o número das almas libertadas, que sobrepuja aos habitantes de Roma. Eis porque visitamos, em ação de graças, os lugares consagrados à nossa gloriosa Rainha’.

E como prova da verdade da aparição, anunciou que a sua amiga dentro de um ano morreria também. O que de fato aconteceu”.

Santa Francisca Romana, favorecida com tan­tas visões, contemplou também, num dia da Assun­ção, o triunfo de Maria e uma multidão de almas liber­tadas do purgatório pela intercessão da Mãe de Mi­sericórdia. — (S. Petr. Damian. Opusc. XXXIV — Disput. de variis apparition, et miraculis. C. 3. P L. CXLV — 586-587.).




[1] Revel. Sanct. Birgitae — I, VI.
[2] Idem — Cap. X, I — Cap. XVI.
[3] Faber: “Tudo por Jesus” — C. IX — Purgatório, 5.
[4] Terrien, S. J. — La Mere de Dieu et La Mere de homes — Tom. II — Lib. X, cap. II.
[5] La Puente — Vida del P. Baltazar Alvares — C. 44.
[6] Eccl. XXXIV, 8 — “Glórias de Maria” — Santo Afonso — I. par. Cap. VIII.

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