Cem anos atrás, il Guerrone - São Pio X prevê, meses antes, a eclosão da Primeira Guerra Mundial
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Para colocar de
uma forma simples: a I Guerra Mundial começou quando Yanushkyevitch, com a
ajuda do ministro russo da Guerra, Sukhomlinov, transformou o conflito armado
austro-sérvio em uma guerra mundial preparando, portanto, para a vinda do
comunismo e da "propagação dos erros da Rússia" em todo o mundo.
É isso, talvez,
este pensamento que São Pio X tinha em mente quando, em 28 de julho de 1914, o
embaixador austríaco apareceu diante de Pio X para informá-lo que o Império
tinha formalmente declarado guerra contra o Reino da Sérvia. Durante esta
reunião, o embaixador pediu ao Papa para abençoar as armas do exército imperial
e real da Áustria e Hungria. A isso Pio X respondeu: "Diga ao Imperador
que eu não posso abençoar nem a guerra, nem aqueles que desejaram a guerra. Eu
abençôo a paz". Quando o embaixador então seguiu com um pedido de
bênção pessoal para o imperador, Franz Josef, o Papa afirmou: "Eu só posso
rezar para que Deus possa perdoá-lo. O Imperador deve considerar-se sortudo por
não receber a maldição do Vigário de Cristo!".
Qual teria sido
o resultado de uma bênção papal ou de uma maldição papal nunca se saberá. O que
está claro, porém, é que o Papa São Pio X percebeu o que imperador Franz Josef
e a maioria dos generais europeus parecem ter se esquecido, pela declaração de
guerra contra a Sérvia, o monarca Habsburgo havia soltado os cachorros de uma
luta longa e assassina que iria nivelar tudo o que sua dinastia tinha
construído ao longo de cerca de 700 anos.
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Papa São Pio X - Profeta da Grande Guerra
Por Dr. Peter E. Chojnowski
Traduzido por Andrea Patrícia

O Papa São Pio
X, Giuseppe Melchior Sarto, parou diante da gruta de Lourdes, durante seu
passeio nos jardins do Vaticano, na primavera do ano de 1914. Virou-se para Dom
Bressan, seu confessor, e disse: "Eu estou pesaroso pelo próximo Papa. Eu
não vou viver para ver isso, mas, infelizmente, é verdade que a religio
depopulata está chegando muito em breve. Religio depopulata". O
termo "religião despovoada", refere-se a profecia vinda do irlandês
São Malaquias, e deveria ser aplicada ao reinado do sucessor no trono de São
Pedro do próprio Pio X. Que São Pio X poderia prever o despovoamento da Europa,
especialmente na medida em que essa tragédia iria afetar a Igreja Católica é
realmente uma das características mais marcantes da relação entre este papa e a
Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Muitos geo-políticos e estrategistas
observadores de alto nível poderiam claramente vislumbrar algum tipo de briga
entre duas ou mais das seis grandes potências da Europa (ou seja, Rússia,
Grã-Bretanha, França, Áustria-Hungria, Itália e Alemanha), ninguém previu a
queda da civilização cristã tradicional, exceto o Papa São Pio X. Mesmo seu
próprio secretário de Estado e confidente íntimo, o anglo-espanhol Cardeal
Merry del Val, ficava perdido ao tentar explicar a insistência do Papa de que o
que ele previu não era guerra justa e sangue, mas a perda da Casa Comum
Europeia; uma perda que explicita as dores para a Igreja Católica e a miséria e
perda para a preponderância da humanidade.
Uma situação
muito semelhante, envolvendo uma visão do Papa em um acontecimento geopolítico
futuro, ocorreu durante sua audiência com a futura imperatriz austríaca Zita,
no verão de 1911. A Princesa Zita da casa real franco-italiana de Bourbon-Parma
acabara de se tornar noiva do futuro herdeiro do trono imperial austríaco, o
arquiduque Charles. Charles, em 1911, era o segundo na linha sucessória do
trono de seu tio-avô Franz Josef que reinou sobre o Império multi-nacional da
Áustria desde 1848. O Papa, que, juntamente com o Cardeal Merry del Val foi um
grande defensor da tradição européia dos Habsburgos, parabenizou a princesa por
suas próximas núpcias. No final de uma conversa que começou com: "Eu estou
muito feliz com esse casamento e eu espero muito dele para o futuro... Charles
é um dom do Céu pelo que a Áustria fez para a Igreja", o Papa parecia
vagar seu pensamento quando ele se referiu ao futuro marido de Zita como o
herdeiro do trono. Quando a jovem princesa apontou gentilmente que seu futuro
marido não era o herdeiro direto do trono, vindo primeiro seu tio, o
predestinado Franz Ferdinand, São Pio X olhou sério e insistiu que Charles em
breve seria imperador. Quando ela garantiu que Franz Ferdinand certamente não
abdicaria dado o fato de que ele estava no auge da vida, o Papa parecia
perturbado e ponderadamente disse em voz baixa: "Se é uma abdicação... Eu
não sei".
Que o Papa São
Pio X deve ter tido pressentimentos precisos sobre os dois grandes
acontecimentos do ano de 1914, anos antes que esses eventos realmente de fato
tenham ocorrido, é simplesmente fantástico e uma manifestação de sua intimidade
com o Divino e sua preocupação paterna com as vidas diárias dos fiéis Europeus.
O que essas ideias também revelam é o claro reconhecimento do Papa do fato
primário europeu de seu tempo, que Áustria Habsburgo era a pedra angular da
Europa. Para mover o edifício, era preciso cavar e remover a pedra. A Primeira
Guerra Mundial ou a Grande Guerra foi simplesmente a erradicação desta pedra.
Foi uma guerra em que o coração político da cristandade católica foi destruído,
aparentemente para sempre.
Éssa é a nossa
tese, que a Áustria foi a razão para a Grande Guerra e que o resultado mais
tangível do conflito foi o desmembramento do Império. Além disso, em artigos
posteriores sobre os papas e a sua relação com o Grande Conflito, vou tentar
mostrar como o destino da Áustria tem muito a ver com sua ligação com o Papado
e como, nos anos mais críticos de 1917-1918, a política da Áustria estava em
pleno acordo com os objectivos do Papa Bento XV. Que o fracasso da
Áustria-Hungria marcou a exclusão da voz dos papas dos conselhos da Europa
moderna, simplesmente confirma o fato de que, historicamente falando, o
prestígio e a influência do altar e do trono têm aumentado e diminuído em
conjunto.
A) Europa Pré-1914: A Torre Orgulhosa
Quando olhamos para a Europa de 1914, somos forçados a admitir um fato
incontestável: funcionava. Com isso, quero dizer que existia uma sociedade,
sustentada pelas mesmas instituições que tinham-na amparado por mais de um
milênio (por exemplo, a aldeia rural, a Igreja, as dinastias reais, as
aristocracias transnacionais). Esta sociedade estava confiante em si mesma,
testemunhando a colonização européia do mundo este ano. Suas taxas de
natalidade eram muito altas; seus reis eram venerados e, mesmo, amados. A
indústria, mesmo na Rússia agrária, foi se expandindo a uma taxa desconhecida
na anterior história da humanidade.
Por que, em um
mundo em que as luzes estavam finalmente brilhando, elas tão de repente se
apagaram? Estou, é claro, referindo-me aqui a famosa declaração de Sir Edward
Grey, secretário britânico das Relações Exteriores em 1914 e, ironicamente, um
dos homens mais responsáveis pelo início do conflito sangrento, no qual ele comentou sobre as luzes
de Whitehall gradualmente sendo extintas à noite, em agosto de 1914, quando o
Império Britânico e o Império Alemão foram à guerra. "As luzes estão se
apagando por toda a Europa; não vamos vê-las acesas novamente em nossa
vida".
Como pode ser
que as luzes da "Torre Orgulhosa", como Barbara Tuchman nomeou seu
livro sobre a Europa pré-guerra, tenham ido embora? Como é possível que uma
civilização que estava melhor alimentada, alojada melhor que qualquer outra no
passado, uma de alfabetização quase universal --- foi afirmado por alguns
historiadores contemporâneos que há mais analfabetismo na Inglaterra hoje do
que em 1914 - uma civilização em que as normas da cultura e do debate
parlamentar eram tão altas que, na década de 1890, em Berlim, havia até um
mercado negro de ingressos para as galerias públicas do Parlamento alemão, caiu
no esquecimento devido ao auto-abate?
Aqui, pode-se
dar fatos históricos e opiniões sobre bastidores da diplomacia, os níveis de
tropas, o estado das estradas de ferro, e postura geopolítica, no entanto,
estas coisas somente eram apenas manifestações de uma desorientação mais fundamental
na vida européia, aquela que São Pio X identificou em sua encíclica inaugural E
Supremi Apostolatus em 4 de outubro de 1903. Aqui, o Papa, falando de sua
própria época, diz: "como se poderia esperar encontramos extinto entre a
maioria dos homens todo o respeito ao Deus Eterno, e nenhuma consideração
prestada nas manifestações da vida pública e privada à Suprema Vontade."
É isso, talvez,
este pensamento que São Pio X tinha em mente quando, em 28 de julho de 1914, o
embaixador austríaco apareceu diante de Pio X para informá-lo que o Império
tinha formalmente declarado guerra contra o Reino da Sérvia. Durante esta
reunião, o embaixador pediu ao Papa para abençoar as armas do exército imperial
e real da Áustria e Hungria. A isso Pio X respondeu: "Diga ao Imperador
que eu não posso abençoar nem a guerra, nem aqueles que desejaram a guerra. Eu
abençôo a paz". Quando o embaixador então seguiu com um pedido de bênção
pessoal para o imperador, Franz Josef, o Papa afirmou: "Eu só posso rezar
para que Deus possa perdoá-lo. O Imperador deve considerar-se sortudo por não
receber a maldição do Vigário de Cristo!".
Qual teria sido
o resultado de uma bênção papal ou de uma maldição papal nunca se saberá. O que
está claro, porém, é que o Papa São Pio X percebeu o que imperador Franz Josef
e a maioria dos generais europeus parecem ter se esquecido, pela declaração de
guerra contra a Sérvia, o monarca Habsburgo havia soltado os cachorros de uma
luta longa e assassina que iria nivelar tudo o que sua dinastia tinha construído
ao longo de cerca de 700 anos.
Qual era
exatamente a situação europeia, que deu a São Pio X tal preocupação em 1914?
Como a "guerra de curta duração" que todos planejaram, tornar-se-ia a
Grande Guerra, que pouquíssimos, exceto o Papa, previram? Para entender a
situação europeia, de um modo geral, tal como existia em 1914, deve-se
focalizar a atenção sobre duas outras datas, a da Revolução Francesa de 1789 e
a da derrota de Napoleão e da restauração do sistema monárquico em 1815. A
Revolução Francesa, um ressurgimento de entusiasmo por duas formas antigas de
governo, o da república e o da democracia, havia aterrorizado a grande massa de
europeus - e americanos - por sua violência, sua estúpida derrubada de antigas
instituições, e sua impiedade anticlerical e hostilidade a tudo o que era
cristão. Esta aberração política guiada pela inveja teria sido sufocada em
1795, por uma multidão monarquista em Paris, que estava reagindo à guerra, à
fome incessante, e ao anticatolicismo da regicida Primeira República, se um
corso jovem de origem italiana, Napoleão Bonaparte, não tivesse usado uma
metralha sobre a multidão em busca de justiça. Esta intervenção salvou a
República, a herança da Revolução, e criou as condições necessárias para
espalhar esse fervor Revolucionário em toda a Europa.
Foi exatamente
isso que aconteceu quando Napoleão Bonaparte institucionalizou a Revolução no
Primeiro Império. Fazendo a si mesmo Jacobino coroado, Napoleão tentou trazer a
revolta maçônica para toda a Europa, de Lisboa a Moscou. Ele não conseguiu,
após uma geração de guerra devido à vitória do Almirante Nelson na Batalha de
Trafalgar e da sua derrota para o Duque de Wellington na Batalha de Waterloo em
1815. Após o Congresso de Viena, as potências europeias da Rússia, Prússia (que
viria a se tornar líder do Segundo Reich alemão), Áustria, Grã-Bretanha, e a
França monarquicamente reabilitada, estabeleceram-se em uma um tanto tensa e
relativamente estável ordem política de impérios multi-nacionais unidos pela
lealdade a um monarca e pelo desejo comum de evitar outro surto da barbárie que
foi experimentado durante a Revolução Francesa. Por, aproximadamente, 100 anos
este sistema foi a Ordem Europeia, apesar de sentimentos democráticos e
revoltas, do republicanismo francês e seitas maçônicas sempre agindo como
células cancerosas prontas para matar o corpo dessa Ordem.
Foi em
participação especial que a Grande Ordem Europeia se viu entrar na incerteza do
século XX. Este Sistema firmemente interligado tinha uma especial preocupação e
ponto de instabilidade: o Império Otomano, a Turquia, o "Homem Doente da
Europa". Os turcos Osmanli, uma tribo turco-tártara islâmica fora da Ásia
Central, no início do Renascimento começaram a empurrar os gregos bizantinos
para fora da Ásia Menor e, finalmente, cruzaram pela Europa, onde subjugaram os
búlgaros, sérvios, gregos e bósnios. O ponto alto do avanço islâmico turco foi
em 1683 às portas de Viena, onde o rei polonês Jan Sobieski os parou. A partir
de então houve uma retirada lenta e agonizante em toda a Península Balcânica,
até o século XIX, quando os otomanos perderam a soberania sobre a Sérvia,
Grécia e Romênia. Durante a Guerra dos Bálcãs de 1912-1913, as propriedades
europeias do sultão foram reduzidas à Trácia Oriental ou às propriedades que a
Turquia tem até hoje. Devido à mistura étnica e religiosa desta área, e a
vulnerabilidade dos pequenos reinos, que, como rochas marítimas, surgiram com a
recessão do dilúvio islâmico, a instabilidade crônica, que caracterizou a
região, teve que ser "resolvida" pelos impérios multinacionais da
Áustria ou da Rússia.