segunda-feira, 29 de abril de 2013

‘Se as Missas fossem celebradas no modo tradicional, as igrejas estariam cheias’ - diz Pe. Laguérie


‘O Papa nota que, quando se suprimiu a missa tradicional, acreditava-se que as pessoas que seguiam ligadas a ela eram velhos, nostálgicos. Mas o que se vê é justamente o contrário: há uma preponderância de jovens pedindo a volta da missa antiga...’




Entrevista com Pe. Laguérie, superior geral do Instituto do Bom Pastor (IBP).


“Se as Missas fossem celebradas no modo tradicional, as igrejas estariam cheias. Toda vez que a liturgia é deteriorada, as igrejas se esvaziam”, diz Pe. Laguérie, fundador e superior geral do Instituto Bom Pastor.

Leia a seguir entrevista com o padre Philippe Laguérie.

FOLHA - A retomada da missa tradicional causou grande repercussão devido a um trecho em que cita os judeus. Como avalia a polêmica?

PE. LAGUÉRIE - Na missa propriamente dita, essa que é celebrada todos os dias, não há nada, nenhuma referência aos judeus. Existia uma referência aos judeus na liturgia da Sexta-feira Santa, que não é uma missa. Reclamava-se de um texto que falava dos “pérfidos judeus”, mas ele foi suprimido pelo papa João XXIII, justamente a missa que o papa Bento XVI ressuscitou. Então, essa é uma falsa questão.

FOLHA - Mas a liturgia da Sexta-feira Santa ainda mantém a afirmação de que os judeus necessitam ser esclarecidos sobre Jesus Cristo [“Oremos pelos judeus, para que Deus retire o véu que cobre seus corações e lhes faça conhecer nosso Senhor Jesus Cristo”].

PE. LAGUÉRIE - Certamente, eles têm de ser esclarecidos sobre a divindade de Jesus Cristo. Pede-se que os judeus, os muçulmanos, os infiéis de maneira geral sejam esclarecidos sobre Jesus Cristo.
Fala-se de 15 categorias de pessoas - os catecúmenos, os hereges, os cismáticos, os pagãos -, pede-se a todos que conheçam a luz de Cristo.
Pede-se até que sejam esclarecidos o Papa, os Bispos e todo o Clero a respeito da divindade de Cristo, que conheçam a luz de Cristo. Então, não há nenhuma referência especial aos judeus.

FOLHA - O Vaticano publicou outro documento, que traz a idéia de superioridade da Igreja Católica sobre as demais igrejas cristãs, ao afirmar que a igreja de Cristo é a Igreja Católica. O sr. pode esclarecer esse ponto?

PE. LAGUÉRIE - O que o Papa diz no documento é que a afirmação do Concílio de que “a Igreja Católica subsiste na Igreja de Cristo” significa “a Igreja Católica é a Igreja de Cristo” ainda com mais força. Não só diz que a Igreja Católica é a Igreja de Cristo atualmente, mas que sempre o foi, desde o início. Além disso, o Papa define quem a Igreja Católica reconhece como Igreja.
Ele admite que se chamem de Igrejas as ortodoxas, porque elas conservaram o sacerdócio, a sucessão apostólica e a missa católica.
Embora possam ser chamadas de Igreja, não são Igrejas de Cristo, porque não têm a comunhão com Roma, condição essencial para ser Igreja de Cristo.
Porém o papa não reconhece o nome de Igreja a todos os movimentos surgidos da reforma protestante, porque eles não têm a doutrina católica.
Não é o objetivo do documento estabelecer um “hit parade” das igrejas, dizer qual é a melhor, mas definir quem é Igreja ou não segundo o Vaticano.

FOLHA - Quais as principais diferenças entre a missa tradicional e a missa rezada hoje?

PE. LAGUÉRIE - Há muita, muita, muita diferença. Em primeiro lugar, na missa antiga, todos rezam voltados para Deus e voltados para o Oriente, onde nasce o sol, que simboliza a luz de Cristo e o surgimento da verdade. Somente na explicação do Evangelho, nas leituras e no sermão, o padre se volta para o povo, pois está se dirigindo a ele. Na missa nova, o padre reza sempre voltado para o povo.
A segunda diferença é a língua sagrada, o latim. Nós não nos dirigimos a Deus na mesma língua que usamos nas compras, nos negócios, no dia-a-dia.
Sempre houve na Igreja, mesmo no Oriente, uma língua sagrada para falar com Deus. Na Síria, rezava-se a missa em aramaico; na Judéia, rezava-se a missa em siríaco. Em terceiro lugar, os próprios textos da missa são diferentes: na missa nova não se fala mais do sacrifício, nem do pecado, nem da vida eterna, nem da redenção.

FOLHA - Essa volta à missa antiga pode ser vista como exemplo de um retorno da Igreja Católica, sob Bento XVI, ao conservadorismo?

PE. LAGUÉRIE - A nova missa corresponde à teologia dos anos 1960. A missa antiga, a uma teologia que foi eterna na Igreja Católica.

FOLHA - Existe alguma estimativa do número de católicos adeptos desse rito antigo?

PE. LAGUÉRIE - Duas pesquisas feitas na França em maio, por institutos não-católicos, constataram que 68% dos franceses, mesmo não-católicos, se diziam adeptos da missa tradicional.

FOLHA -
 A idéia que se tem é justamente a inversa: que a missa rezada em latim pode afastar os fiéis. Como o sr. explica isso?

PE. LAGUÉRIE - O Papa disse que, de fato, recuou muito o conhecimento do latim e que isso pode diminuir a demanda pela missa tradicional. Mas não é preciso conhecer latim para apreciar a missa antiga.
Além disso, o Papa nota que, quando se suprimiu a missa tradicional, acreditava-se que as pessoas que seguiam ligadas a ela eram velhos, nostálgicos. Mas o que se vê é justamente o contrário: há uma preponderância de jovens pedindo a volta da missa antiga.




Fonte: Folha

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