domingo, 21 de julho de 2013

Pio IX e Metternich



O grande Pio IX demonstrou sua elevação de alma ao reconhecer e condenar os erros do liberalismo
C.A.
Fonte: Catolicismo
Pio IX

Eis senão quando, dias atrás, para surpresa minha, recebo uma carta de Josias: queria provar-me que Pio IX fora um liberal. Pela carta constato – surpresa dentro da surpresa – que Josias anda lendo as memórias do Príncipe de Metternich, o grande estadista austríaco do século passado. Foi Metternich quem, após a queda de Napoleão em 1815, presidiu à reorganização do mapa europeu no famoso Congresso de Viena, sendo então qualificado de “árbitro da Europa”. De elevada visão católico-monarquista, permaneceu à frente da chancelaria austríaca até 1848, desenvolvendo uma política conservadora, contrária aos princípios igualitários e liberais espalhados pelo mundo todo, desde a Revolução de 1789, na França. 
Há muitos anos tive uma discussão quente sobre o liberalismo com um antigo colega de Faculdade, chamado Josias. Mostrei-lhe então os documentos de Pio IX condenando as teorias liberais, o que o deixou mal à vontade. Depois, as circunstâncias da vida nos separaram e esqueci-me dele.
A carta de Josias continha trechos significativos da correspondência diplomática de Metternich, na qual o grande estadista católico lamenta amargamente a política liberal adotada por Pio IX nos primeiríssimos tempos de seu Pontificado. E numa época em que o liberalismo constituía o aspecto mais sinuoso e mais pernicioso da Revolução. Política desastrosa, que teve considerável influência na perda dos Estados Pontifícios pelo Papa.
Responder a Josias foi-me fácil, como o leitor verá adiante. Agora, porém, transcrevo a parte mais contundente de sua carta, cujos termos eu bem gostaria que tivessem sido mais respeitosos para com o Pontífice.
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“Então você me mostrou documentos anti-liberais de Pio IX... Ora, esse Papa não só foi um liberal dos quatro costados. mas foi ademais um símbolo da Revolução. Olha o que diz o Metternich (*): ‘O Papa e todos os que o cercam estão às ordens da facção [revolucionária]... As notícias que me chegam dos quatro pontos cardeais são cheias de provas do mau espírito que reina no clero’ (p. 435).
‘Recolhendo os traços que tenho seguido há muitos anos, ser-me-ia possível escrever a história da conjuração que terminou por chegar a Pio IX. O espectro tomou um corpo no Chefe visível da Igreja... Um Papa liberal não é um ser possível. Um Gregório VII pôde tornar-se o senhor do mundo, um Pio IX não o pode. Ele pode destruir, mas não pode edificar. O que já o Papa liberalizante destruiu foi seu próprio poder temporal’ (p. 443).
‘A Revolução se apossou da pessoa de Pio IX como de uma bandeira... É hoje ao Papa que se invoca e que se atrai, proclamando-o Papa do progresso... O grito de Pio IX somente divulga o pensamento da facção; é a pessoa do Papa e não a Igreja que ela quer manter’ (pp. 471-2). ‘Estava reservado ao mundo presenciar o espetáculo de um Papa praticando o liberalismo’ (p. 476).
‘Pregar o uso da razão no deserto a nada conduz. Ora, a Roma de hoje tem muito desse tipo de deserto; ela está plena de uma ação que a experiência reprova... Em Roma foi retomado furtivamente o ano de 1789' (p.550).
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Josias poderia ainda ter acrescentado um fato. A tal ponto as hordas revolucionárias faziam suas manifestações de rua aos brados de Viva Pio IX, que o grande São João Bosco, devotíssimo do Papado, recomendava a seus alunos que não gritassem Viva Pio IX e sim Viva o Papa.
Minha resposta a Josias, porém, não se fez esperar: recomendei-lhe que prosseguisse seus estudos históricos um pouco além de 1848, e logo veria como Pio IX soube ser depois um grande Papa, passando por algo à maneira de uma conversão. E foi sobretudo o reconhecimento dos erros do liberalismo, que antes o influenciaram, que o fez admirável.
Seus documentos anti-liberais como a Encíclica Quanta Cura e os Syllabus, a proclamação dos dogmas da Imaculada Conceição de Nossa Senhora e da infalibilidade papal, o firme apoio que deu aos católicos ultramontanos franceses (anti-liberais) e ao heróico Presidente do Equador, Garcia Moreno, fizeram dele um contra-revolucionário de primeira linha, provavelmente um santo a ser elevado à glória dos altares.
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* Cartas ao conde de Ficquelmont e ao feld-maréchal conde Radetzky –– cumprindo missões respectivamente diplomática e militar em Milão, então parte do império da Áustria –– e ao embaixador austríaco em Roma, conde Lützow, no período de autubro/1847 a janeiro/1848; inMémoíres de Metterních, Plon, Paris, 1883, t. 7.

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