quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas! — 6 de Novembro: O sofrimento do purgatório (Parte VII)



Nota do blogue:  Acompanhe esse Especial AQUI.

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão

Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre




6 de Novembro

O SOFRIMENTO DO PURGATÓRIO

Sofrimento terrível


Exclamava Jó, o profeta, e com ele repetem as santas almas do purgatório: Miseremini mei! Saltem vos amici mei, quia manus Domini tetigit me! — Tende compaixão de mim! Tende compaixão de mim! Ao menos vós que sois meus amigos, porque a mão de Deus me feriu!

Sim, a Justiça de Deus fere as benditas almas para as purificar e santificar e torná-las dignas do esplendor da glória celeste e da visão de Deus. E que sofrimentos incríveis padecem elas! Que fogo devorador! Fogo que acrisola o ouro e prepara os eleitos para a visão divina, a glória eterna!

Sofrer é a condição das almas do purgatório. Pertencem elas à Igreja padecente. Desde que o pe­cado entrou no mundo, só pela cruz Jesus nos salvou, e só pelo fogo do sofrimento chegamos ao céu. O purgatório foi chamado o oitavo sacramento do fogo. Sacramento da misericórdia na outra vida.

As almas do purgatório, diz o Pe. Faber, estão num estado de sofrimento que a nada se pode com­parar e nem se pode fazer uma idéia.

Segundo Santo Tomás e Santo Agostinho, quan­to ao sofrimento, as penas do purgatório são análo­gas às do inferno.

Santa Catarina de Genova, após uma visão do purgatório, exclama: Que coisa terrível é o purgatório! Confesso que nada posso dizer e nem conceber que se aproxime sequer da realidade. Vejo que as penas que lá padecem as almas são tão dolorosas como as penas do inferno[1].

O purgatório tem penas, diz a autoridade de San­to Tomás de Aquino, penas que ultrapassam a todos os sofrimentos deste mundo[2].

É o mais horroroso de todos os martírios.

E como não hão de clamar as benditas almas das profundezas do abismo das chamas expiadoras: Mise­remini mei! Miseremini mei! — Tende compaixão de mim!

Segundo os teólogos e autores abalizados, as al­mas do purgatório sofrem tanto que não há na lin­guagem humana o que possa traduzir os tormentos terríveis que padecem. Santa Catarina de Genova, chamada a teóloga do purgatório, a quem Nosso Se­nhor revelou o sofrimento da expiação dos justos, diz ser impossível traduzir na linguagem humana e o nosso entendimento não pode conceber tal sofrimento. É preciso uma graça e uma iluminação especial de Deus para compreender estas coisas, dizia a Santa.

“É peor que todos os martírios”, disse o Padre Faber.

“As penas do purgatório são passageiras, não são eternas, diz São Gregório Magno, mas creio que são mais terríveis e insuportáveis que todos os males desta vida”.

Domingos Soto escreveu: “Se o homem tivesse de suportar os tormentos do purgatório, a dor o ma­taria num instante. A alma imortal por sua nature­za torna-se mais forte pela separação do corpo or­gânico e por isto tem capacidade para tanto sofri­mento”.

Há dois sofrimentos, duas penas principais no purgatório: a pena do dano ou separação de Deus, e a pena do sentido, tormento do fogo.


A pena do dano

Que é a pena do dano que padecem as almas do purgatório?

É a que sofrem por se verem privadas da visão de Deus no céu. A visão intuitiva que consiste na fe­licidade de ver a Deus como é, segundo a palavra de São Paulo: videbimus eum sicuti est. Não ver a Deus, cuja beleza soberana e cuja bondade elas compreen­dem agora de modo tão claro e sentem ser Ele o So­berano Bem, único desejável e a suprema Beleza, única que pode encantar uma alma!

Pois separada do Soberano Bem, a alma sente um horrível martírio mais insuportável do que todos os tormentos que possa padecer e até do fogo do pur­gatório em que se acha.

Santo Tomás de Aquino tratando da pena do da­no, diz ser mais insuportável, maior e mais terrível que a pena do sentido. Não ver a Deus, não possuir este Deus, único encanto da pobre alma que já não tem mais nada que a possa seduzir ou enganar, e dei­xá-la esquecida da Suprema Felicidade! Aqui neste mundo a tibieza, o apego à terra e nossa fraqueza, fazem com que muitas vezes nos esqueçamos de Deus e vivamos sem sentir e nem imaginar sequer o que seja estar separado de Deus. Há quem não possa sequer imaginar o que possa haver de sofrimento nesta ausência de Deus que é a pena do dano. Porém, ai! Quando a alma separada deste corpo mortal sentir a necessidade de voar para Deus, de possuir a Deus, atraída pelo Bem Infinito, sedenta da posse de Deus e da Eternidade, então há de sentir, há de perceber quanto é doloroso e horrível estar um minuto que seja separada do Bem Soberano, separada de Deus! É a horrível pena do dano.

“Sentir um ímpeto de ir para Deus sem o poder satisfazer, isto, diz Santa Catarina de Genova, é o maior sofrimento que se possa imaginar, é propria­mente o purgatório. Este estado é um estado de mor­te, uma angústia inenarrável”[3].

A Liturgia da Igreja chama-o com razão de mor­te: Libera eas a morte...

Sabeis o que é o suplício de quem está sufocado e não pode respirar? Que horror! A alma está como sufocada, não pode respirar o que é a vida e razão de ser, Deus, o Infinito, o Eterno, o Paraíso! A pobre alma no purgatório se precipita no tormento e no fogo, quer se purificar, suspira pelo Bem Eterno, so­fre e sofre, mas deseja mais sofrimento para que che­gue logo a hora de contemplar o seu Deus, a Eterna Beleza que o atormenta naquelas chamas da expiação!

Tem-se visto neste mundo, escreveu Mons. Bougaud,[4] afeições tão profundas, almas que se ama­vam e não puderam suportar a separação e morreram de dor. Que não será no purgatório? Podemos dizer que si Deus por um milagre da sua Onipotência não sustentasse as almas do purgatório, elas ficariam ani­quiladas de dor longe daquele Deus que amam apai­xonadamente. Si compreendêssemos melhor como é horrível a separação de Deus! Si como os Santos experimentássemos as provações da vida mística, o tor­mento de se sentir ausente de Deus, saberíamos ava­liar o que é e o que faz sofrer esta terrível pena do dano!


O fogo do purgatório

Além do sofrimento da pena do dano ou da pri­vação da vista de Deus, da posse da visão beatífica, a Igreja nada definiu sobre a natureza das outras pe­nas do purgatório. O Concilio de Florença diz que as almas são privadas temporariamente da visão beatí­fica e são purificadas de toda mancha por penas expiadoras e purificadoras. Dentre estas penas está a dos sentidos, e comumente concordam quase todos os autores, se trata da pena do fogo. Há fogo no pur­gatório e um fogo terrível criado pela Justiça Divina para purificação dos justos, para acrisolar o ouro das almas. Os teólogos em geral e em sentença comum, afirmam que se trata de um fogo verdadeiro e não metafórico. Fogo que queima mil vezes mais que o fogo da terra, que comparado a ele não é mais do que o de uma pintura para a realidade. Os Santos Padres e os Teólogos escolásticos admitem o fogo real. Como pode um fogo material atormentar a alma que é espiritual? É um mistério. Todavia, não temos um outro mistério que é o da alma espiritual agir sobre o cor­po material? Por que a Justiça de Deus não poderia fazer com que o fogo material agisse sobre a alma espiritual? Diz claramente Santo Tomás de Aquino: “No purgatório há dois sofrimentos: a pena do dano, que consiste no retardamento da visão de Deus, e a pena dos sentidos, castigo proveniente de um fogo material”[5].

A questão do fogo do purgatório foi muito dis­cutida no século IV. Santo Agostinho conclui pela existência do fogo material. No século XIII Santo Tomás segue a opinião de Santo Agostinho. A pena do fogo! Como é terrível! Não é menor em inten­sidade do que o fogo do inferno. Este fogo, diz São Gregório Magno, instrumento da Divina Justiça, faz sofrer mais tormentos e muito mais cruéis do que tudo quanto Sofreram os mártires nos suplícios ini­magináveis.

As maiores dores são as que afetam a alma, co­menta Santo Tomás. Toda a sensibilidade do corpo vem da alma. O que não será uma dor que vem ferir diretamente a alma? Pois o fogo material, fogo misterioso, dotado de um poder extraordinário, pela Jus­tiça Divina, atinge diretamente a alma e a fere dolo­rosamente. Que fogo, meu Deus! Que castigo tre­mendo! Como sofrem as pobres almas nesta forna­lha abrasadora! Tantas revelações particulares nos mostram o fogo do purgatório, fogo real, fogo ter­rível. Verdadeiro fogo.

Porque discutir quando a unanimidade quase dos Doutores e Santos Padres e tantos teólogos seguros nos falam com uma eloquência tão impressionante da realidade do fogo do purgatório? São Boaventura escreve: “O fogo do purgatório é um fogo material que atormenta a alma dos justos que não fizeram penitência neste mundo. Fogo! Esta palavra faz tre­mer. Já exclamava Isaias: quem dentre vós poderá habitar em meio de um fogo devorador? Façamos penitência agora, aliviemos o fogo de nosso purgatório. É terrível o fogo que nos espera!


Exemplo

Uma aparição


Não podemos saber neste mundo com certeza e nem é necessário saber como é e o que é o fogo do purgatório. O que sabemos é que a Sagrada Escri­tura muitas vezes nos fala do fogo para nos dar a entender que seremos castigados e expiaremos nos­sas faltas nos rigores da Divina Justiça para nos pu­rificarmos e sermos dignos de entrar no céu. Se 0 fogo desta vida criado por Deus para nos servir já é terrível, que não será o fogo da Divina Justiça?

O fato seguinte é narrado pelo piedoso Monse­nhor De Segur.

Em 1870, diz o piedoso prelado, eu vi e toquei em Foligno, perto de Assis, na Itália, uma destas ter­ríveis provas de fogo pelas quais as almas do purga­tório, por permissão de Deus, às vezes atestam que o fogo do purgatório é um fogo real. Em 1859 mor­reu de uma apoplexia fulminante a boa Irmã Teresa Gesta, que durante longos anos foi mestra de Novi­ças. Doze dias depois, em 16 de Novembro, uma Ir­mã, chamada Ana Felícia, subia à rouparia quando ouviu um angustioso e triste gemido: — Jesus! Ma­ria! Que é isto? Exclamou assustada a Irmã. Não havia acabado de falar, quando ouviu uma queixa: Ai! Meu Deus! Meu Deus! Quanto sofro! Irmã Ana reconheceu logo a voz da defunta Irmã Teresa. Um cheiro sufocante de fumaça encheu toda a rouparia e percebeu-se o vulto da Irmã Teresa que se dirigia para a porta e tocava na mesma com a mão direita, dizendo: Aqui fica a prova da misericórdia de Deus. E na madeira da porta ficou carbonizada e impressa a mão da defunta, que desapareceu. Irmã Ana pôs-se a gritar numa grande excitação nervosa. A comu­nidade correu para acudi-la e sentia-se um cheiro sufocante de fumaça. A Irmã conta o que se passa e reconhecem todas, na mão pequenina gravada no por­tal, a mão da Irmã Teresa, que se distinguia muito pela sua pequenez e delicadeza. As Irmãs, comovi­das, vão ao coro e oram pela defunta. Passam a noi­te em oração e penitências em sufrágio da saudosa mestra de noviças. No dia seguinte oferecem a Santa Comunhão por aquela alma. Mais um dia se passa e Irmã Ana Felícia ouve e vê depois Irmã Teresa radiante de glória toda bela, que lhe diz com doce voz: “Vou para a glória! Sede fortes e corajosas na luta, fortes em carregar a cruz!” E desapareceu numa luz brilhantíssima.

Este fato portentoso é narrado por Monsenhor de Segur, que visitou o Convento das Terceiras Regu­lares Franciscanas daquela cidade, foi submetido a um rigoroso processo ordenado pelo Bispo de Foligmno em 23 de Novembro de 1859.




[1] Purgatório, o. VIII.
[2] Sum. Theol. supp. quaestio, c. X, art. 3.
[3] Traité du Part., II.
[4] Le Christianisme et lês temps presents. — Tomo V, c. XIV.
[5] Suppl. quaest. c, art. 3.


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