segunda-feira, 13 de outubro de 2014

PARA ONDE NOS LEVA A ‘TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO’?


DESTAQUE
 

O materialismo precisa da ajuda da teologia para ser redentor. (Walter Benjamin).

O pessoal da teologia da libertação, leitor atento do antigo testamento, se apropriou. Há uma relação forte desse elemento profético com o cristianismo da libertação na América Latina.

Nasci no Brasil, fui para a Europa fazer tese sobre Marx e vivo na França há 40 anos. Tenho estudado o judaísmo libertário e o grupo de pensadores que articulou a tradição messiânica com a utopia revolucionária. Sou um ateu religioso. Acredito no marxismo e no homem, mas essa já é uma fé profana... Há uma relação forte desse elemento profético com o cristianismo da libertação na América Latina(Michael Lowy, cientista social)


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Michael Lowy fala sobre religião e marxismo, dá sua opinião sobre utopia e comenta tropicalismo - Marcelo Carnaval / Agência O Globo











Michael Lowy, cientista social - ‘Agora é que
a história do socialismo está começando’

por Pedro Gueiros


Michael Lowy fala sobre religião e marxismo, dá sua opinião sobre utopia e comenta tropicalismo:

“Nasci no Brasil, fui para a Europa fazer tese sobre Marx e vivo na França há 40 anos. Tenho estudado o judaísmo libertário e o grupo de pensadores que articulou a tradição messiânica com a utopia revolucionária. Sou um ateu religioso. Acredito no marxismo e no homem, mas essa já é uma fé profana”.


Conte algo que não sei

— O derretimento das calotas polares [levará] as principais cidades a ficarem debaixo d’água. A sociedade industrial capitalista ocidental nos faz caminhar para o desastre. Estamos sob a ameaça do dilúvio, como na Bíblia. Precisamos pensar numa alternativa civilizatória radical, determinada pela decisão coletiva e democrática. Chamo isso de ecossocialismo.

Boa parte dos intelectuais marxistas, como o senhor, tem origem judaica. A religião que oprime é a mesma que liberta?

— Walter Benjamim denuncia o capitalismo como religião mas diz que o materialismo precisa da ajuda da teologia para ser redentor. Há na tradição judaica o messianismo, promessa de um mundo do qual a opressão, a fome, a miséria, a guerra desaparecerão. Isso tem potencial subversivo, mas não é monopólio dos judeus. O pessoal da teologia da libertação, leitor atento do antigo testamento, se apropriou. Há uma relação forte desse elemento profético com o cristianismo da libertação na América Latina.

O uso da força faz do oprimido de hoje o opressor de amanhã. A revolução definitiva será obtida por meio do amor?

— O ideal seria a revolução do amor, pacífica. Infelizmente, sabemos que as classes dominantes resistem às mudanças. É importante buscar a transformação pela consciência, mas em certas circunstâncias você será obrigado a se defender.

Com a queda do muro, o que restou da utopia?
— O que fracassou nos países do leste foi uma caricatura burocrática do socialismo. Talvez no começo, havia uma tentativa, mas virou uma ditadura totalitária. Só que não acabou. Na verdade, é agora que a história do socialismo está começando.

Vistos como a civilização do atraso, os índios agora são o paradigma do futuro?

— Benjamim dizia que o capitalismo tem relação assassina com a natureza. As comunidades primitivas do Brasil e de toda a América Latina consideravam a natureza como uma mãe generosa. Não por acaso, indígenas estão na vanguarda da luta. Não podemos voltar a viver como eles, mas aprender a respeitar essa mãe generosa.


Fonte: O Globo

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