sábado, 1 de junho de 2013

A serpente e a Ave Maria; a salvação por meio do Santo Rosário, da confissão e da comunhão (Parte II)










Anteriormente tínhamos iniciado a narração deste sonho de São João Bosco relativo ao papel da oração na nossa salvação eterna e especificamente através do rezo do Rosário. Na parte de hoje São João Bosco acrescenta o papel da confissão e comunhões frequentes — poderosos meios para nos afastar do mal.
Retomemos o relato das Memórias Biográficas de São João Bosco.

Exposta a nossos leitores — continua Dom Lemoyne — nossas pobres ideias sobre o significado da casinha de Murialdo e da árvore vista por Dom Bosco no sonho, façamos uso da Crônica de Dom Provera, que nos oferece outras diversas circunstâncias do sonho, citando algumas palavras de Dom Bosco. Diz assim:


"Em 21 de agosto, de noite, estávamos todos impacientes por ouvir a segunda parte do sonho que Dom Bosco tinha anunciado, proclamando ser de grande interesse e proveito para todos; mas, os nossos desejos não ficaram satisfeitos. Dom Bosco, como de costume, subiu à sua tribuna e disse:

—Ontem noite anunciei-lhes que hoje ia contar-lhes a segunda parte do sonho, mas, muito a meu pesar, acredito que não devo manter minha palavra.

Seguidamente, de todas as partes se elevou um murmurinho que indicava a contrariedade e o desgosto geral. O (Santo), depois de deixar que se serenassem os ânimos, prosseguiu:

— O que querem? Pensei-o ontem de noite, pensei-o hoje e convenci-me de que não é conveniente contar a segunda parte de sonho, pois contém coisas que não quereria se soubessem fora de casa. Contentem-se, pois, tirando algum proveito do que lhes disse, quando lhes narrei a primeira parte.

Ao dia seguinte, que era 22 de agosto, rogamos-lhe insistentemente que, se não queria fazê-lo em público, ao menos nos contasse em privado a segunda Parte do sonho. Resistia a condescender com nossos desejos, mas, depois de reiteradas súplicas acedeu e assegurou-nos que de noite continuaria o relato. Assim o fez. Rezadas as orações, continuou:

"Dadas suas contínuas petições, contarei a segunda parte do sonho. Se não tudo, ao menos, dir-lhes-ei aquilo que posso referir-lhes. Mas antes é necessário que assinale uma condição, ou seja, que ninguém escreva nem diga fora de casa o que vou contar. Comentem entre vocês, tomem a risada se quiserem, façam o que lhes agrade, mas só entre vocês".

Enquanto falávamos — aquele personagem e eu sobre o significado da corda e da serpente —, voltei-me para trás, e vi alguns jovens que agarrando os pedaços da carne da serpente, os comiam. Então, gritei-lhes imediatamente:

— Mas o que é o que fazem? Estão loucos? Não sabem que essa carne é venenosa e que lhes fará muito dano?

Não, não — me respondiam os jovens —, está muito boa.

Mas, depois de havê-la comido, caíam ao chão, inchavam-se e tornavam-se duros como uma pedra.

Eu não sabia quedar em paz, porque apesar daquele espetáculo, cada vez era major o número de quantos jovens comiam daquelas carnes. Eu gritava ao um e ao outro; dava bofetadas a este, um murro àquele, tentando impedir que comessem; mas era inútil. Aqui caía um, enquanto que lá começava a comer outro. Então chamei os clérigos em meu auxílio e disse-lhes que se mesclassem entre os jovens e se organizassem de maneira que nenhum comesse aquela carne. Minha ordem não obteve o efeito desejado, mas sim que alguns dos mesmos clérigos ficaram também a comer as carnes da serpente, caindo ao chão ao igual dos outros. Eu estava fora de mim quando vi a meu redor a um tão grande número de moços estendidos pelo chão no mais miserável dos estados.

Voltei-me então para o desconhecido e disse-lhe:

— Mas o que quer dizer isto? Estes jovens sabem que esta carne ocasiona-lhes a morte, e, contudo, comem-na.

— Qual é a causa?

Ele respondeu-me:

—Já sabes que animalis homo non percipit ea quae Dei sunt. (Alguns homens não percebem as coisas que são de Deus)

— Mas não há remédio para que estes jovens voltem em si?

— Sim que o há.

— E qual seria?

— Não há outro mais que a bigorna e o martelo.

— A bigorna? O martelo? E como terá que empregá-los?

— Terá que submeter aos jovens à ação de ambos os instrumentos.

— Como? Acaso devo colocá-los sobre a bigorna e logo golpeá-los com o martelo?


Então meu companheiro, explicando seu pensamento, disse:

— Olhe: o martelo significa a Confissão; a bigorna, a Comunhão; é necessário fazer uso destes dois médios.

Pus mãos à obra e comprovei que eram os indicados, remédios eficacíssimos, embora para alguns resultassem inúteis; tais eram os que não faziam boas confissões.

A confissão e a comunhão como meios para nossa perseverança e salvação eterna

‘Quando os jovens se retiraram aos dormitórios — continua Dom Provera— perguntei a (São) João Dom Bosco por que suas ordens aos clérigos, de que impedissem aos jovens comer as carnes da serpente, não tinham conseguido o efeito desejado.

O servo de Deus respondeu-me:

— Nem todos obedeceram. Pelo contrário, vi alguns dos clérigos, como já disse, comer também daquelas carnes.

Estes sonhos — continua Dom Lemoyne — representam em resumidas contas a realidade da vida. Com as palavras e com os fatos Dom Bosco reflete a realidade da vida, o estado de uma comunidade em que, em meio de grandes virtudes, também existem misérias humanas. E não terá que maravilhar-se disso, quanto mais que o vício, por sua própria natureza, tende a expandir-se mais que a virtude, daqui a necessidade de uma vigilância contínua.

Alguém poderá objetar que teria sido mais conveniente atenuar ou omitir algumas descrições um tanto irritantes; mas nosso parecer não é o mesmo.

Se a história tiver que cumprir seu nobre ofício de mestra da vida, deve descrever o passado tal é como foi em realidade, para que as gerações futuras possam animar-se ante o exemplo do ardor e da virtude dos que lhes precederam e, ao mesmo tempo, conhecer suas faltas e enganos, deduzindo deles a prudência com que devem regular os próprios atos.

Uma narração que só apresentasse um lado da realidade histórica conduziria irremediavelmente a um falso conceito da mesma. Enganos e defeitos cometidos repetidas vezes, ao não ser reconhecidos como tais, voltarão a ser a causa de novas transgressões, sem grande esperança de emenda. Uma mal entendida apologia, de nada serve aos benévolos, nem converte aos mal dispostos; em troca, uma franqueza ilimitada engendra crédito e confiança.

Portanto, nós, ao expor nossa maneira de pensar, diremos, além disso, que Dom Bosco deu do sonho as explicações mais adequadas às inteligências dos jovens, deixando entrever outras de não menor importância, não as apresentando com toda claridade, porque não acreditou que era chegado o momento oportuno para fazê-lo. Em efeito: nos sonhos veem que o (Santo) fala não somente do presente, mas também do futuro longínquo, como acontece no (sonho) da roda e em outros que iremos expondo.

As carnes podres do monstro não poderiam significar o escândalo que faz perder a fé; a leitura dos livros imorais, irreligiosos? O que indicam a queda ao chão, o inchaço, a dureza dos membros, a não ser a desobediência ao superior, a soberba, a obstinação no mal, a malícia?

O veneno é o mesmo com que poluiu aquela comida maldita o dragão descrito por Jó no capítulo XLI, que asseguram os Santos Padres ser figura de Lúcifer. O versículo 15 de dito capítulo, diz assim: ‘Seu coração é duro como a pedra, sólido como a mó fixa de um moinho’. E, nisso, transformasse o coração dos miseráveis envenenados, dos rebeldes obstinados no mal.

E qual será o remédio contra tal dureza? (São) João Dom Bosco emprega um símbolo um tanto escuro, mas que em substância assinala um remédio sobrenatural. Ocorre-nos esta explicação: É necessário que a graça santificante, obtida mediante a oração e com os sacrifícios dos bons, acenda os corações endurecidos e os faça maleáveis; que os dois Sacramentos, isto é, o martelo da humildade (confissão) e a bigorna da Eucaristia sobre o qual o ferro recebe uma forma decisiva, artística, para que depois de ser temperada, possa exercer sua eficácia divina.

Que o martelo que golpeia, e a bigorna que sustenta, concorram a realizar a obra que em nosso caso, não é outra que a reforma do coração enfermo, mas dócil ao mesmo tempo. Será, então, quando este, rodeado de um nimbo de esplêndidos raios de luz, voltará a ser o que fora em outro tempo.


(M. B. Volume VII, págs. 238-239)

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