sexta-feira, 7 de junho de 2013

Sobre o ‘sou feliz sendo prostituta’ do Ministério da Saúde



"Palavras como “direitos humanos”, “dignidade humana” e similares são hoje em dia meros talismãs destituídos de significado, empregados no discurso político para justificar quaisquer barbaridades que os detentores do poder em um determinado momento histórico julguem por bem impor à população. A prostituição é somente o aspecto menos tragável dessa revolução moral abjeta, uma coisa contra a qual os cidadãos ainda acham importante se levantar."


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Gazeta do Povo de Curitiba publicou mais uma vez um corajoso e oportuno editorial: «Um apagão ético-jurídico», falando sobre a “campanha de apologia à prostituição que o Ministério da Saúde colocou e retirou do ar”. Trata-se da campanha que continha, entre outras, a imagem abaixo. O responsável por ela foi demitido após o escândalo.

Não me parece crível que a veiculação dessa campanha possa ter sido um mero engano. Afinal de contas, exaltar a prostituição está perfeitamente de acordo com os rumos que a nossa elite “bem-pensante” julga necessário impôr ao país para o “modernizar” (a bandeira, inclusive, é despudoradamente defendida na Câmara pelo sr. Jean Wyllys, o deputado que parece ter um prazer doentio em se colocar a favor de tudo o que não presta). O mais provável é que a peça tenha sido calculadamente liberada para “sondar” a aceitação popular; se não houvessem chovido reclamações, eu sinceramente duvido de que o senhor Padilha tivesse se dado ao trabalho de mover mundos e fundos para retirar a campanha de circulação.
Mas voltemos ao editorial do periódico curitibano. A Gazeta do Povo é contundente no seu diagnóstico:
Em questões que envolvem a dignidade humana, a mera neutralidade do Estado já seria preocupante, por ser, no fundo, uma omissão. Mas pior ainda é ver o poder público abraçar essas plataformas, chegando-se a extremos como o “Eu sou feliz sendo prostituta”.
E, no fundo, trata-se exatamente disso. Palavras como “direitos humanos”, “dignidade humana” e similares são hoje em dia meros talismãs destituídos de significado, empregados no discurso político para justificar quaisquer barbaridades que os detentores do poder em um determinado momento histórico julguem por bem impor à população. A prostituição é somente o aspecto menos tragável dessa revolução moral abjeta, uma coisa contra a qual os cidadãos ainda acham importante se levantar. É óbvio que não há nada de digno na mercantilização do sexo; que seja necessário defender publicamente isso contra uma campanha oficial do Governo do Brasil que afirma haver felicidade na prostituição, no entanto, serve para nos fazer ver quão densas são as trevas em que o Século XXI achou a sociedade brasileira mergulhada.
Em um comentário que enviei à Gazeta do Povo cumprimentando-a pelo editorial [coisa que, aliás, recomendo que todos façam; ou pelo site ou pelo emailleitor@gazetadopovo.com.br], eu pontuei que nem sempre dignidade e liberdade andam de mãos dadas. O livre-arbítrio humano, que sem dúvidas é parte constituinte da nossa dignidade, por sua própria natureza pode ser empregado para nos degradar. Qualquer pessoa há de convir que há diversas formas pelas quais um ser humano pode degradar-se a si mesmo, e que portanto somente o binômio “voluntário” x “coagido” não se revela satisfatório para nos dizer se certas atitudes são dignas ou não. É importante defender a liberdade sim, mas isso não nos pode fazer fechar os olhos à existência de certas coisas que, por mais que nos incomodem e desconcertem, são ao mesmo tempo radicalmente voluntárias e vergonhosamente indignas. E, se é, sem dúvida, necessário defender a liberdade, não se pode nunca, a este pretexto, louvar a degradação humana.

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