DESTAQUE
Dick Cheney num artigo que publicou com sua filha Liz: "Poucas vezes um presidente dos Estados Unidos esteve tão equivocado, sobre tantas coisas, às custas de tanta gente. As ações de Obama, antes e depois dos recentes avanços dos jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (Isil, na sigla em inglês) no Iraque aumentaram as ameaças estratégicas contra a segurança dos EUA. O presidente Obama parece estar decidido a deixar o cargo tendo degradado a América. Ele vai no caminho de assegurar que seu legado seja o de um homem que traiu nosso passado e dilapidou nossa liberdade".
Cheney
dirige-se aos que já "sabem" que Obama é um péssimo presidente cujas
decisões costumam ser erradas. E assim, Cheney e sua filha se unem a uma longa
lista dos que oferecem "soluções" para a situação na Síria e no
Iraque, soluções que, segundo os críticos, o presidente e sua equipe ignoram,
não entendem, não sabem executar ou, como diz Cheney, Obama as refuta porque
está empenhado em degradar a influência do país.
O interessante das recomendações para
enfrentar a complicadíssima situação é que os críticos de Obama não são somente
republicanos, mas também membros de seu partido. Uma das críticas mais comuns é
que Obama não armou a oposição síria que enfrenta Bashar Assad.
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Os terroristas do "Estado Islâmico do Iraque e do Levante" (ISIL) estão assassinando milhares de cristãos no Iraque. |
Por Moisés Naím
"Os
líderes do Partido Republicano estão frustrados com o fracasso do presidente
Barack Obama em encontrar uma solução para o conflito entre sunitas e xiitas. A
única coisa que pedimos ao presidente na reunião foi que acabasse com essa
briga religiosa que começou no ano 632. E o que nos ofereceu o presidente?
Nada", afirmou, aborrecido, o senador Mitch McConnell. "Este conflito
tem mais de 1.500 anos", disse John Boehner, líder dos republicanos na
Câmara dos Deputados. "Isso quer dizer que o presidente Obama teve tempo
suficiente para resolvê-lo", acrescentou.
A
citação anterior é uma brincadeira inventada pelo humorista Andy Borowitz -
que, por sua vez, foi colocada seriamente por Dick Cheney num artigo que
publicou com sua filha Liz: "Poucas vezes um presidente dos Estados Unidos
esteve tão equivocado, sobre tantas coisas, às custas de tanta gente. As ações
de Obama, antes e depois dos recentes avanços dos jihadistas do Estado Islâmico
do Iraque e do Levante (Isil, na sigla em inglês) no Iraque aumentaram as
ameaças estratégicas contra a segurança dos EUA. O presidente Obama parece
estar decidido a deixar o cargo tendo degradado a América. Ele vai no caminho
de assegurar que seu legado seja o de um homem que traiu nosso passado e
dilapidou nossa liberdade".
A
ironia de que o acusador seja um dos responsáveis pela catastrófica invasão do
Iraque só é superada por sua desfaçatez. O artigo provocou uma enxurrada de
reações recordando os muitos e trágicos erros de Cheney: "Não há dúvida de
que Saddam tem armas de destruição em massa"; "Seremos recebidos como
libertadores"; "Não precisaremos deixar muitos soldados no Iraque
depois da invasão"; "Sunitas, xiitas e curdos viveriam harmonicamente
em democracia"; "Os extremistas na região se verão obrigados a
repensar sua estratégia de jihad"; entre outros. É evidente que o artigo
se destina mais a influir na política interna dos Estados Unidos do que na
política no Oriente Médio.
Cheney
dirige-se aos que já "sabem" que Obama é um péssimo presidente cujas
decisões costumam ser erradas. E assim, Cheney e sua filha se unem a uma longa
lista dos que oferecem "soluções" para a situação na Síria e no Iraque,
soluções que, segundo os críticos, o presidente e sua equipe ignoram, não
entendem, não sabem executar ou, como diz Cheney, Obama as refuta porque está
empenhado em degradar a influência do país.
O
interessante das recomendações para enfrentar a complicadíssima situação é que
os críticos de Obama não são somente republicanos, mas também membros de seu
partido. Uma das críticas mais comuns é que Obama não armou a oposição síria
que enfrenta Bashar Assad.
"Armar
os moderados" é o mantra dos que acusam Obama de ter abandonado a Síria.
Também o acusam de ter abandonado o Iraque: os críticos insistem em que Obama
não devia ter retirado todas suas tropas, mas deixado um contingente para
enfrentar emergências militares. E o que recomendam fazer agora no Iraque?
Atacar com drones o Isil, que invadiu o Iraque vindo do território da Síria.
Propõem também depor o primeiro-ministro xiita Nurial-Maliki, substituindo-o
por um líder menos sectário que provenha do consenso entre os grupos sunitas,
xiitas e curdos.
Perigo. O problema dessas recomendações é que elas são de
um simplismo enorme e perigoso. E todas supõem que Obama e EUA têm mais poder,
capacidade e conhecimento do que a experiência recente repetidamente
demonstrou.
"Armar
os moderados da Síria" supõe que os EUA sabem quem são e podem garantir
que as armas que vão fornecer não cairão em mãos de seus inimigos. Isso apesar
de alguns efetivos do Isil terem sido vistos portando equipamentos que os EUA
enviaram aos moderados. Deixar tropas americanas no Iraque ficou impossível uma
vez que o governo de Maliki, por pressão do Irã, se negou a permiti-lo.
"Drones
contra fanáticos" é outra ideia muito distante de ser uma solução mágica
para problemas que não se resolvem com robôs. Talvez seja preciso usá-los para
deter a Isil, mas, como se viu no Afeganistão, os drones não solucionam o
problema e ainda criam outros.
O
mesmo vale para a proposta de tirar Maliki do poder. É inevitável mas, com a
sua saída, não desaparece a infernal política entre as seitas e tribos
iraquianas. Segundo o humorista Borowitz, o único consenso que há entre esses
grupos é que Cheney se cale.
E
não é má ideia que também sejam mais sóbrios os que têm soluções
"óbvias" que supõem que o governo dos EUA tudo sabe e tudo pode. Foi
o fato de agir com base nessa suposição que debilitou a superpotência. / Tradução de Celso Paciornik
Fonte: ESP
Fonte: ESP
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