terça-feira, 12 de março de 2013

Segunda Guerra Mundial: Resquícios do espírito de cavalaria





O B-17 voava baixo, retornando sozinho e sem escolta de uma missão de bombardeio no coração da Alemanha. A longa batalha contra os caças das defesas alemãs tinha sido muito dura, metade da tripulação estava ferida, o artilheiro de cauda estava morto dentro de sua cabine de vidro e gotas de sangue congelado cobriam as suas metralhadoras. O avião estava quase que completamente destruído, mas milagrosamente ainda conseguia voar. Havia perdido um dos profundores, um dos motores, a fuselagem estava arrebentada, nenhum armamento defensivo estava operante.

Charles Brown, de apenas 21 anos, um rapaz da roça do estado de West Virginia, pilotava o bombardeiro na sua primeira missão de combate.

O piloto olhou para fora de sua cabine e gelou. Ele piscou os olhos bem forte e olhou de novo esperando que fosse apenas uma miragem, mas seu co-piloto assustou-se com a mesma visão horrível.

"Meu Deus, é um pesadelo", disse o co-piloto.
"Ele vai nos destruir", concordou o piloto.

Eles estavam olhando para um caça alemão, um Messerschmitt cinza que pairava apenas a um metro da ponta de sua asa. Faltavam apenas cinco dias para o Natal de 1943 e o caça alemão aproximara-se para o abate deste B-17 americano arrebentado.

Mas quando Brown e seu co-piloto olharam novamente para o piloto do caça, algo estranho aconteceu. O piloto alemão não puxou o gatilho, em vez disso, ele assentiu com a cabeça.

O que se seguiu foi um dos maiores atos de nobreza cavalheiresca registrados durante a Segunda Guerra Mundial.
...

O Segundo Tenente Franz Stigler, um az dos ares, estava a postos na sua base aérea, ao lado de seu caça, naquele dia gelado de dezembro. Mais um abate e receberia a Cruz de Ferro, a maior condecoração alemã.

Mas ele estava motivado por vingança, não pela honra. 

Seu próprio irmão e colega na Luftwaffe fora morto naquele mesmo ano. Seus colegas de arma vinham sendo mortos por pilotos americanos e suas cidades arrasadas.

Ao final da guerra a Alemanha iria perder 28.000 pilotos.

Stigler ouviu os motores do bombardeiro e quando olhou para cima viu o B-17 voando tão baixo que parecia estar preparando-se para pousar. Assim que o bombardeiro desapareceu atrás de umas árvores Stigler jogou a bituca do lado, saudou um colega da equipe de apoio em terra e decolou para a perseguição.

Enquanto o caça de Stigler subia para encontrar o bombardeiro ele decidia atacar pela retaguarda. Aproximou-se por trás do avião inimigo, olhou pela mira do seu canhão e colocou o dedo no gatilho. Quando estava pronto a abrir fogo, Stigler hesitou, estava surpreso pois o bombardeiro não havia atirado contra ele.

Aproximou-se e viu o artilheiro de cauda parado como uma estátua. O colarinho branco de seu uniforme estava ensopado de sangue. Stigler esticou o pescoço para examinar o resto do avião e viu que a cobertura da fuselagem fora arrancada, seus canhões estavam destruídos e ele podia ver os homens amontoados dentro do avião cuidando das feridas dos outros tripulantes.

Em seguida, ele levou seu avião ao lado da asa do bombardeiro e encarou o piloto cujos olhos estavam arregalados de choque e horror.

Stigler apertou sua mão contra o Terço que levava dentro da jaqueta de voo e relaxou o dedo indicador do gatilho. 

Ele não poderia disparar, seria assassinado.

Ele vivia por uma regra, podia rastrear seus ancestrais até Cavaleiros do século XVI e havia estudado no seminário.

Um piloto alemão que poupasse o inimigo poderia ser condenado a morte na Alemanha Nazista se alguém o denunciasse.

Sozinho com aquele bombardeiro incapacitado, Stigler mudou sua missão. Após sinalizar ao piloto americano, ele começou a voar ao seu lado, assim os canhões anti-aéreos alemães em terra não atirariam contra o lento bombardeiro (a Luftwaffe possuía seus próprios B-17, capturados e re-construídos, para missões secretas e de treinamento).

Stigler escoltou o bombardeiro até o Mar do Norte, fez uma última saudação para o piloto americano e puxou seu caça de volta para a Alemanha.

"Boa sorte", pensou Stigler, "você está nas mãos de Deus".
...

O Segundo Tenente Charles Brown não conseguia pensar em mais nada além de sobreviver, mas quando conseguiu terminar de pousar seu bombardeiro de volta a sua base na Inglaterra, já sem uma gota de combustível, afundou-se em seu assento segurando a Bíblia que levava dentro de sua jaqueta e ficou lá sentado em silêncio.

A história não termina aqui, estes dois homens encontraram-se 50 anos depois, ficaram amigos e é outra história... para quem quiser ler a reportagem da CNN sobre atos de nobreza na guerra.

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