segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Da morte do católico apóstata









P - Se a vida do apóstata é tão triste e tão miserável, qual não deverá ser sua morte?

R - A morte daquele que apostatou é a morte mais funesta que se pode imaginar. Nesse último momento, onde o tempo se obscurece, nesse momento terrível onde todas as ilusões cessam, nesse momento de onde depende a sorte de uma eternidade aventurada ou infeliz, a consciência recupera seus direitos e sujeita a torturas cruéis aquele que morre rebelde a seu Deus e à Igreja.


P - Donde provém este terror e esta agitação terrível do apóstata no leito de morte?

R - Ela provém de várias fontes. A primeira é a palavra infalível de Deus, que a predisse em ternos manifestos em muitos lugares das Sagradas Escrituras. Eis alguns destes oráculos: O desejo dos pecadores perecerá. O coração endurecido se sentirá mal no último momento da vidaA morte dos ímpios é horrível. É horrível cair entre as mãos do Deus vivo


P - O senhor supõe que aqueles que se fazem protestantes são estes pecadores, estes corações endurecidos, estes ímpios de quem é falado nas passagens da Bíblia que o senhor cita. Mas é realmente assim?

R - Sem dúvida. E, com efeito, qual crime é comparável àquele do apóstata? Ele traiu sua própria consciência, ele renegou sua fé e a única religião verdadeira no intuito de se entregar aos prazeres carnais ou satisfazer um interesse vil. Ele seguiu seu orgulho cego e traficou sua alma. Há um coração mais endurecido que aquele que, depois de se sobrecarregar de pecados, passa do desespero à apostasia, que resiste a todas as exortações de Deus, asfixia o grito contínuo de sua consciência e chega às portas da morte nesse estado? Há um ímpio mais declarado que aquele que persegue a Igreja em seu ódio, que lhe declara uma guerra mortal, que busca roubar seus filhos para corrompê-los por seus escândalos, seus discursos e suas manobras? Quem, portanto, é mais ímpio que aquele que detesta a Igreja, esta Esposa tão cara a Jesus Cristo, esta Esposa que ele adquiriu ao preço de tantas penas, de tanto sangue e de uma morte tão cruel? Ah! Não há palavras capazes de expressar como convém esta impiedade abominável.


P - Realmente não há o que responder: diga-me as outras razões que tornam a morte dos apóstatas medonha. 

R - Além dos oráculos divinos que predizem os horrores da morte destes infelizes, eles têm ainda um pressentimento obscuro sobre o fim horrível ao qual eles tendem. Eles sentem, no fundo de sua alma, que Deus é seu inimigo. O próprio Deus concorre, por um castigo antecipado, em lhes fazer sentir mais vivamente os terrores do tribunal inexorável diante do qual eles vão comparecer. Eu não sei se se encontrastes presente na morte de algum destes ímpios; mas creia pelo menos naquele que foi testemunha delas. Estes miseráveis tornam-se então insensíveis e mudos como rochedos: ou mais ainda, caem em acessos de furor e de desesperança, só manifestando o estado medonho de sua alma. Seus olhos perturbados e desvairados, seu rosto desfeito, suas contorções, são, como tais, indícios de sua reprovação final.


P - Mas a morte de todos os apóstatas é realmente assim?

R - Tal é, infelizmente, a morte comum destes infortunados, morte que podemos chamar justamente de um inferno antecipado. Se há alguma exceção a esta regra, ela ainda é mais funesta.


P - Não entendo: o que o senhor quer dizer por isso?

R - Eu quero dizer que a morte aparentemente mais tranquila de um ou de outro dentre eles é, na realidade, mais deplorável que aquela que eu acabo de descrever. Aqueles, ao menos, do qual lhe falei inicialmente, experimentam a atrocidade do remorso, e, portanto, se eles quiserem, eles ainda podem - absolutamente falando, com a graça de Deus, que não falha - enquanto há vida, usar estes mesmos remorsos para sua salvação. Os outros, ao contrário, mostram assaz, por sua calma estúpida, que eles perderam completamente a fé; eles se mostram incrédulos e ateus práticos, que não fazem questão da vida futura, que não pensam nem em Deus nem na imortalidade da alma, e morrem como viveram, ou seja, como animais irracionais. Para pessoas desta espécie, todos os remédios são ineficazes. 


P - Por que o senhor os chama de ateus práticos e incrédulos?

R - Porque eles realmente são isso. Diga-me: é possível que um cristão, sabendo que após a vida presente, ele deve se apresentar ao julgamento de Deus para receber uma sentença final e irrevogável, que deve decidir sobre sua eternidade, que um cristão, sabendo que ele cometeu uma ofensa grave contra Deus, morra tranquilo? Coisa parecida só pode acontecer com um ateu e com um incrédulo completo.

P - Há, ao menos, exemplos de certos homens que se arrependeram perto da morte do crime que eles cometeram ao se fazerem protestantes?

R - Sim; há os exemplos de todos aqueles que não estão completamente endurecidos contra os remorsos de sua consciência, e que não caíram, por sua falta, na impenitência final. Quando estes percebem que o mundo foge diante de si e que a vida está-lhes escapando, então a venda do que eles chamavam uma convicção profunda lhes cai dos olhos, eles reconhecem a ilusão louca que eles criaram para si mesmos e, no silenciar das paixões, eles se recordam da Igreja que eles abandonaram, e buscam se reconciliar com ela e com Deus. Estes são os verdadeiros triunfos da misericórdia divina.


P - Por que o senhor chama estas conversões dos triunfos da misericórdia divina?

R - Porque as conversões sinceras, neste momento, são um milagre, visto o abuso imenso que eles fizeram, durante a vida, das graças de Deus, graças pelas quais Ele não cessou de chamar estes pecadores à penitência. Ademais, ocorre frequentemente, por um desígnio sempre adorável, mas terrível, da justiça divina, que estes apóstatas, em sua última hora, busquem um padre católico e não podem tê-lo, seja porque este último não chega a tempo, seja ainda porque o acesso junto do doente lhe seja proibido por uma vigilância cruel. Infelizmente! Quantos exemplos de acontecimentos semelhantes eu poderia citar! Enfim, estas conversões na hora da morte são chamadas dos triunfos da misericórdia divina, porque Deus atinge frequentemente os apóstatas com a morte súbita e os transporta, assim, ao outro mundo, sem que eles percebam. A razão desta justiça assustadora, nós a encontramos na Escritura: Não se brinca com Deus, nos diz ela.



P. Jean Perrone, C.J. Le Protestantisme et l'Église catholique. Controverses à l'usage du peuple. 2e édition, H. Casterman, Paris, 1857.


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