P - Se a vida do apóstata é tão triste e tão
miserável, qual não deverá ser sua morte?
R - A morte daquele que apostatou é a morte mais
funesta que se pode imaginar. Nesse último momento, onde o tempo se obscurece,
nesse momento terrível onde todas as ilusões cessam, nesse momento de onde
depende a sorte de uma eternidade aventurada ou infeliz, a consciência recupera
seus direitos e sujeita a torturas cruéis aquele que morre rebelde a
seu Deus e à Igreja.
P - Donde provém este terror e esta agitação
terrível do apóstata no leito de morte?
R - Ela provém de várias fontes. A primeira é a palavra
infalível de Deus, que a predisse em ternos manifestos em muitos lugares das
Sagradas Escrituras. Eis alguns destes oráculos: O desejo dos pecadores
perecerá. O coração endurecido se sentirá mal no último momento da
vida. A morte dos ímpios é horrível. É horrível cair entre as mãos
do Deus vivo.
P - O senhor supõe que aqueles que se fazem
protestantes são estes pecadores, estes corações endurecidos, estes ímpios de
quem é falado nas passagens da Bíblia que o senhor cita. Mas é realmente assim?
R - Sem dúvida. E, com efeito, qual crime é
comparável àquele do apóstata? Ele traiu sua própria consciência, ele renegou
sua fé e a única religião verdadeira no intuito de se entregar aos prazeres
carnais ou satisfazer um interesse vil. Ele seguiu seu orgulho cego e traficou
sua alma. Há um coração mais endurecido que aquele que, depois de se
sobrecarregar de pecados, passa do desespero à apostasia, que resiste a todas
as exortações de Deus, asfixia o grito contínuo de sua consciência e chega às portas
da morte nesse estado? Há um ímpio mais declarado que aquele que persegue a
Igreja em seu ódio, que lhe declara uma guerra mortal, que busca roubar seus
filhos para corrompê-los por seus escândalos, seus discursos e suas manobras?
Quem, portanto, é mais ímpio que aquele que detesta a Igreja, esta Esposa tão
cara a Jesus Cristo, esta Esposa que ele adquiriu ao preço de tantas penas, de
tanto sangue e de uma morte tão cruel? Ah! Não há palavras capazes de expressar
como convém esta impiedade abominável.
P - Realmente não há o que responder: diga-me as
outras razões que tornam a morte dos apóstatas medonha.
R - Além dos oráculos divinos que predizem os
horrores da morte destes infelizes, eles têm ainda um pressentimento obscuro
sobre o fim horrível ao qual eles tendem. Eles sentem, no fundo de sua alma,
que Deus é seu inimigo. O próprio Deus concorre, por um castigo antecipado, em
lhes fazer sentir mais vivamente os terrores do tribunal inexorável diante do
qual eles vão comparecer. Eu não sei se se encontrastes presente na morte de
algum destes ímpios; mas creia pelo menos naquele que foi testemunha delas.
Estes miseráveis tornam-se então insensíveis e mudos como rochedos: ou mais
ainda, caem em acessos de furor e de desesperança, só manifestando o estado
medonho de sua alma. Seus olhos perturbados e desvairados, seu rosto desfeito,
suas contorções, são, como tais, indícios de sua reprovação final.
P - Mas a morte de todos os apóstatas é realmente
assim?
R - Tal é, infelizmente, a morte comum destes infortunados,
morte que podemos chamar justamente de um inferno antecipado. Se há alguma
exceção a esta regra, ela ainda é mais funesta.
P - Não entendo: o que o senhor quer dizer por
isso?
R - Eu quero dizer que a morte aparentemente mais
tranquila de um ou de outro dentre eles é, na realidade, mais deplorável que
aquela que eu acabo de descrever. Aqueles, ao menos, do qual lhe falei
inicialmente, experimentam a atrocidade do remorso, e, portanto, se eles
quiserem, eles ainda podem - absolutamente falando, com a graça de Deus, que
não falha - enquanto há vida, usar estes mesmos remorsos para sua salvação. Os
outros, ao contrário, mostram assaz, por sua calma estúpida, que eles perderam
completamente a fé; eles se mostram incrédulos e ateus práticos, que não fazem
questão da vida futura, que não pensam nem em Deus nem na imortalidade da alma,
e morrem como viveram, ou seja, como animais irracionais. Para pessoas desta
espécie, todos os remédios são ineficazes.
P - Por que o senhor os chama de ateus práticos e
incrédulos?
R - Porque eles realmente são isso. Diga-me: é
possível que um cristão, sabendo que após a vida presente, ele deve se
apresentar ao julgamento de Deus para receber uma sentença final e irrevogável,
que deve decidir sobre sua eternidade, que um cristão, sabendo que ele cometeu
uma ofensa grave contra Deus, morra tranquilo? Coisa parecida só pode acontecer
com um ateu e com um incrédulo completo.
P - Há, ao menos, exemplos de certos homens que se
arrependeram perto da morte do crime que eles cometeram ao se fazerem
protestantes?
R - Sim; há os exemplos de todos aqueles que não
estão completamente endurecidos contra os remorsos de sua consciência, e que
não caíram, por sua falta, na impenitência final. Quando estes percebem que o
mundo foge diante de si e que a vida está-lhes escapando, então a venda do que
eles chamavam uma convicção profunda lhes cai dos olhos, eles reconhecem a
ilusão louca que eles criaram para si mesmos e, no silenciar das paixões, eles
se recordam da Igreja que eles abandonaram, e buscam se reconciliar com ela e
com Deus. Estes são os verdadeiros triunfos da misericórdia divina.
P - Por que o senhor chama estas conversões dos
triunfos da misericórdia divina?
R - Porque as conversões sinceras, neste momento,
são um milagre, visto o abuso imenso que eles fizeram, durante a vida, das
graças de Deus, graças pelas quais Ele não cessou de chamar estes pecadores à
penitência. Ademais, ocorre frequentemente, por um
desígnio sempre adorável, mas terrível, da justiça divina, que estes apóstatas,
em sua última hora, busquem um padre católico e não podem tê-lo,
seja porque este último não chega a tempo, seja ainda porque o acesso junto do
doente lhe seja proibido por uma vigilância cruel. Infelizmente! Quantos
exemplos de acontecimentos semelhantes eu poderia citar! Enfim, estas
conversões na hora da morte são chamadas dos triunfos da misericórdia divina,
porque Deus atinge frequentemente os apóstatas com a morte súbita e os
transporta, assim, ao outro mundo, sem que eles percebam. A razão desta justiça
assustadora, nós a encontramos na Escritura: Não se brinca com Deus, nos diz
ela.
P. Jean Perrone, C.J. Le Protestantisme et l'Église catholique. Controverses à l'usage du peuple. 2e
édition, H. Casterman, Paris, 1857.
Fonte: Católicos Ribeirão
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